sexta-feira, 30 de abril de 2010

O ROMANCE (DO BRASIL) DA COPA DO MUNDO–6

Em 1954, Brasil marcou por zona e foi parar na Hungria

De volta ao continente europeu, a Copa do Mundo da Suíça teve quatro esquisitices: a desistência de seis inscritos, para a fase classificatória; um sorteio que, nas eliminatórias, classificou a Turquia e tirou a Espanha, após uma vitória para cada lado e um empate; a negativa da Argentina de participar, e a colocação de quatro seleções britânicas – Escócia, Inglaterra, Irlanda do Norte e País de Gales – em um mesmo grupo.
  Ainda abatida pelo 16 de julho de 1950, a Seleção Brasileira só voltara aos gramados em 4 de abril de 1952, quando disputara (e conquistara) o Pan-Americano, no Chile, o seu primeiro título no exterior. Da turma que jogara a Copa anterior, ficaram só Bauer, Baltazar e Ademir Menezes.
 Para ir à Suíça, a CBD trocou o técnico Flávio Costa, por Zezé Moreira, que havia ganho o Campeonato Carioca de 1951, pelo Fluminense. Embora tivesse se dado bem no Pan, Seu Zezé perdera o título do Sul-Americano de 1953, para os paraguaios. Mas recuperara-se nas eliminatórias, vencendo os mesmos paraguaios e os chilenos, dentro e fora de casa, marcando oito e sofrendo apenas um gol. Assim, depois de ter cruzado o Atlântico, a bordo dos navios Conte Verde, em 1930, Conte Biancamano, em 34, e Arlanza, em 38, a Seleção Brasileira embarcou em um avião Constellation da Panair, para chegar a um Mundial, pela primeira vez, por via aérea.
 Para os críticos, Zezé Moreira armara um time mais defensivo do que a seleção de 50 e fora injusto com Jair, Zizinho, eleito o melhor jogador da Copa-50, e Ademir, principal artilheiro daquele Mundial e campeão Pan-Americano-52. Todos ainda estavam em grande forma.
Os brasileiros estrearam, em 16 de junho, em Genebra, goleando os mexicanos, por 5 x 0, no estádio do Servette, o Chemilles. Baltazar, aos 23; Didi, aos 30; Pinga (foto), aos 34 e aos 43 minutos do primeiro tempo, e Julinho Botelho, aos 24 da etapa final, foram os marcadores no jogo assistido por 12 mil pagantes e apitado pelo suíço Paul Wyslling. De quem jogou a Copa perdida para os uruguaios, só haviam atuado Bauer e Baltazar. A escalação foi: Castilho, Djalma Santos, Pinheiro e Nílton Santos; Bauer e Brandãozinho; Julinho Botelho, Didi, Baltazar e Rodrigues. O México foi: Mota, Lopez, Gomez e Romo; Cardenas e Avalos; Torres, Naranjo, Lamadrid, Balcazar e Arellano.
 Três dias depois, no estádio La Pontaise, em Lausanne, o futebol brasileiro viveria uma de suas histórias mais esquisitas. Empatava, por 1 x 1, com a Iugoslávia, se matava para virar o placar, aberto por Zebec, aos 3 minutos do segundo tempo – Didi empatara, aos 24 – sem saber que a igualdade classificava as duas seleções. E o chefe da nossa delegação, João Lyra Filho, era expert em regulamentos. Sem necessidade, o time jogou uma prorrogação de mais 30 minutos.
 Com público de 21 mil pagantes e arbitragem do escocês Edward Faultless, a Seleção Brasileira foi: Castilho, Djalma Santos, Pinheiro e Nilton Santos; Bauer e Brandãozinho; Julinho, Didi, Baltazar, Pinga  e Rodrigues. Iugoslávia: Beara, Stankovic, Crnkovic e Caikowski; Horvat e Boskov; Milus Milutinovic, Mitic, Zebec, Vukas e Dvornik – o time desta foto é formado não foi o que jolgou e está posado com: Djalma Santos, Ely, Nílton Santos, Brandãozinho, Castilho, Pinheiro (em pé, da esquerda, para a direita), Julinho Botelho, Didi, Baltazar, Pinga e Rodrigues (agachados, na mesma ordem).
A BATALHA DE BERNA – Esta é garantida. Em qualquer leitura sobre o Mundial-54 estará tal consideração. Faz até sentido, pois rolou uma pancadaria durante e depois que a Hungria eliminou os brasileiros, por 4 x 2, no Estádio Wankdorf, em 27 de junho, diante de 40 mil pagantes.
Invictos, há quatro anos, os húngaros jogavam num 4-2-4, com o centroavante recuando. Os brasileiros usavam a mesma tática, mas com centroavante e ponta-de-lança juntos. Mesmo sem o seu principal jogador, o contundido Puskas, os magiares abriram o placar, com 4 minutos de jogo, quando o zagueiro Pinheiro, com bola dominada, tentou driblar dois adversários, na altura do bico direito da sua pequena área. Terminou entregando o gol a Hidegkuti.
Sem se refazer da bobeada, a Seleção Brasileira sofreu o segundo tento, três minutos depois, em nova falha da zaga, que parou, pedindo impedimento. Como o árbitro inglês Arthur Ellis não concordou, Koksis cabeceou para a rede. O Brasil diminuiu, aos 18, com Djalma Santos cobrando um pênalti, sofrido por Índio. E ficou por aquilo o primeiro tempo. No segundo, aos16, o penal foi a favor dos húngaros, cobrado por Lantos. No lance, o árbitro viu a bola na mão de Pinheiro, dentro da área. O Brasil, porém, reagiu, quatro minutos depois, quando Didi lançou e Julinho Botelho encaçapou.
Foi então que começaram as baixarias. Num lance em que a bola parou perto do técnico Zezé Moreira (foto), este a trocou por uma murcha. Torcedores, árbitros e adversários se irritaram com a sua deselegância. Depois, Nilton Santos entrou pra rachar Bozsic, que revidou. Os dois foram expulsos. Aos 43, Kocsis chutou, de longe, Castilho falhou e acabou-se o Mundial para o Brasil. Mas não, das baixarias. Após o apito final, Humberto Tozzi agrediu Lorant, e também foi expulso. Zezé Moreira acertou uma chuteirada no rosto do técnico húngaro, Gustav Sebes, ministro dos esportes do seu país, e Pinheiro levou uma garrafada.
MARAVILHOSOS MAGIARES - Pra começar, os húngaros estrearam no Mundial, goleando a Coréia do Sul, em 17 de junho, por 9 x 0. Veio, a seguir, a Alemanha, e nova goleada: 8 x 3. O terceiro jogo foi o dos 4 x 2 sobre o Brasil, pelas quartas-de-final. Nas semi, 2 x 2, com os uruguaios, no tempo normal, e 2 x 0, na prorrogação. Na final, derrota, por 3 x 2, frente à Alemanha, após estarem vencendo, por 2 x 0, com 15 minutos de jogo. Por aquela ninguém esperava. E a taça ficou com os alemães.
TODOS OS RESULTLADOS: Iugoslávia 1 x 0 França; Brasil 5 x 0 México; França 3 x 2 México; Brasil 1 x 1 Iugoslávia; Hungria 9 x 0 Coreia do Sul; Alemanha 4 x 1 Turquia; Hungria 8 x 3 Alemanha; Turquia 7 x 0 Coreia do Sul; Alemanha 7 x 2 Turquia; Áustria 1 x 0 Escócia; Uruguai 2 x 0 Tcheco-Eslováquia; Áustria 5 x 0 Tcheco-Eslováquia; Uruguai 7 x 0 Escócia; Inglaterra 4 x 4 Bélgica; Suíça 2 x 1 Itália; Inglaterra 2 x 0 Suiça; Itália 4 x 1 Bélgica; Suíça 4 x 1 Itália; Áustria 7 x 5 Suíça; Uruguai 4 x 2 Inglaterra; Alemanha 2 x 0 Iugoslávia; Hungria 4 x 2 Brasil; Alemanha 6 x 1 Áustria; Hungria 4 x 2 Uruguai. Áustria 3 x 1 Uruguai e Alemanha 3 x 2 Hungria. CLASSIFICÇÃO FINAL – 1 – Alemanha; 2 – Hungria; 3 – Áustria; 4 – Uruguai; 5 – Suíça; 6 – BRASIL; 7 – Inglaterra; 8 – Iugoslávia; 9 – França; 10 - Turquia; 11 – Itália; 12 – Bélgica; 13 – México; 14 – Tcheco-Eslováquia; 15 – Escócia e 16 – Coréia do Sul.

Um comentário:

  1. Esta formação: Em pé: Djalma Santos, Ely, Nilton Santos, Brandãozinho, Castilho e Pinheiro;
    Agachados: Julinho Botelho, Didi, Baltazar, Pinga e Rodrigues; é do jogo pelo Campeonato pan-Americano de 1952;
    Confira: https://jogosdaselecaobrasileira.wordpress.com/1952/04/13/13-de-abril-de-1952-brasil-5-x-0-panama-campeonato-pan-americano-de-1952/

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