Na terra do Tio Sam, em 1994, um baixinho carregou o caneco
Ninguém botava fé que os Estados Unidos pudessem promover um grande Mundial de futebol. Simplesmente, porque o país era visto sem tradição na modalidade, mesmo tendo se filado à FIFA, nove anos após a criação da entidade e participado da primeira Copa do Mundo, em 1930, no Uruguai. O que induzia se pensar assim era o fato de 13% da população norte-mericana não saber o que iria ocorrer por lá, há pouco mais de dois meses do início da competição.
Para tornar a Copa-94 mais atraente, mudou-se algumas regras. Os goleiros foram proibidos de segurar, com as mãos, as bolas recuadas, e premiou-se, com três pontos, os vencedores na primeira fase. Ajudou bastante. A média de gols por partida chegou a 2,71, perdendo só para a das Copa do Chile, em 1962, e da Inglaterra, em 1966, foi de 2, 78. No Mundial de 1990, na Itália, havia sido de 2,21.
O público presente aos estádios foi outra nota positiva. A melhor média, até então, era a do Mundial de 1950, no Brasil, com 47.511 presentes, por jogo – 1.045.246 assistentes, no total. Nos Estados Unidos, foram 68.604 almas por partida – total de 3.567.15 torcedores. Mas o Mundial teve uma nota muito triste: Diego Armando Maradona foram apanhado no exame antidoping e banido da disputa.
À SOMBRA DE PARREIRA – Carlos Alberto Parreira foi o treinador da Seleção Brasileira do tetra, que aparece, na foto ao lado, formando com Taffarel, Jorginho, Aldair, Mauro ssilva, Márcio Santos e Branco, em pé, da esquerda, para a direita; Mazinho, Romário, Dunga, Bebeto e Zinho, agachados, na mesma ordem. Tendo Mário Jorge Lobo Zagallo por auxiliar-técnico, ele assumiu o cargo, em 30 de outubro de 1991, vencendo a Iugoslávia, por 3 x 1, e prometendo futebol ofensivo. Mas o discurso começou a mudar durante as Eliminatórias, quando os canarinhos andaram nas “recuetas” da Copa de 1990.
No meio do caminho, Parreira andou perto de perder o emprego, devido a derrota, por 2 x 0, para a Bolívia, em La Paz, a primeira na história da Seleção. E só convocou Romário depois que a TV mostrou os gols belíssimos gols que o atacante vinha marcando, pelo espanhol Barcelona. O "Baixinho" passou a ser clamor nacional. Até então, não era convocado, por conta de um desentendimento com Zagallo.
Poucos dias antes de começar a campanha do tetra, o zagueiro Ricardo Gomes machucou-se, foi cortado e Márcio Santos virou titular. Durante a estréia brasileira na Copa do Tio Sam, em 20 de junho, no Estádio Stanford, em San Francisco, contra a Rússia – a União Soviética se fragmentara, em 1992, em 14 países –, Ricardo Rocha, também, se machucou. Entrou Aldair. Durante o jogo, Parreira já tinha uma nova zaga.
O Brasil começou vencendo os russos, por 2 x 0. Aos 26 minutos do primeiro tempo, Bebeto cobrou escanteio, Romário antecipou-se ao zagueiro Gorlukovich e abriu o placar. No segundo tempo, depois de os canarinhos terem reclamados a não marcação de dois pênaltis, finalmente, o árbitro Lim Kee Chong, das Ilhas Maurício, marcou um, sofrido por Romário, derrubado, dentro da área, por Ternavski. Raí cobrou e fechou o placar, aos 7 minutos. O jogo foi assistido por 81.061 pagantes.
BRASIL: Taffarel; Jorginho, Ricardo Rocha (Aldair) Márcio Santos e Leonardo; Mauro Silva, Dunga, Raí (Mülller) e Zinho (Paulo Sérgio); Bebeto e Romário. RÚSSIA: Kharin; Gorlukovich, Ternavski, Nikiforov Kunznetsov; Khelestov, Karpin, Piatniski e Tsymbalar; Radchenko (Borodiuk) e Yuran (Salenko). Técnico: Pavel Sadryn.
CAMARÕES NA PANELA – Quatro dias depois, no mesmo estádio, o Brasil aumentou seu público – 83.401 pagantes – e o placar: 3 x 0. A nova vítima foi Camarões, no jogo apitado pelo mexicano Arturo Brizio Carter. Contanto com o jogador mais velho a atuar numa Copa do Mundo, Roger Milla, de 42anos, a seleção de Camarões não era forte, como em 1990, e seus jogadores não batiam bem com o técnico francês Henri Michel. Dunga não queria saber daquilo. Aos 39 minutos, enfiou um passe, de trivela, para Romário vencer Mbouh e Song e mandar na rede.
No segundo tempo, o zagueiro Márcio Santos, complementou cruzamento, de Jorginho, aos 21 minutos, aumentando a fatura, que foi encerrada, aos 28, quando Romário driblou Nkongo, chutou mal e Bebeto conservou o restante.
BRASIL: Taffarel; Jorginho, Aldair, Márcio Santos e Leonardo; Mauro Silva, Dunga, Raí (Müller) e Zinho (Paulo Sérgio); Bebeto e Romário. CAMARÕES: Bell; Tataw, Agbo, Song e Kalla; Foé, Libiih, Mbouh Mfede (Kessak); Biyick e Embé (Roger Milla).
PEQUENO TROPEÇO – Em 28 de junho, a Seleção saiu de San Francisco, para empatar, por 1 x 1, com a Suécia, no Pontiac Silverdome, em Detroit, diante de 77.217 pagantes, em jogo apitado pelo húngaro Sandro Puhl. Foi a primeira partida de um Mundial em estádio coberto.
Pela primeira vez, os canarinhos ficavam atrás no placar. Aos 23 minutos do primeiro tempo, Kennet Anderson balançou a rede de Taffarel, com um chute de curva. Romário empatou, de bicuda, aos 2 minutos do segundo tempo, depois de tabelar com Zinho. Enquanto isso, no outro jogo do grupo, os russos mandavam 6 x 1 em Camarões, com 5 gols de Salenko, o recorde das Copas do Mundo.
BBRSIL: Taffarel: Jorginho, Aldair, Márcio Santos e Leonardo; Mauro Silva, (Mazinho), Dunga, Raí (Paulo Sérgio) e Zinho; Bebeto e Romário. SUÉCIA: Raveli; Roland Nilsson, Patrik Andersson, Kamark e Ljung; Schwarz, Thern, Ingesson e Brolin; Larsson e Kennet Anderson. Técnico: Tommy Svensson.
PANCADA NO DONO DA CASA – Literalmente! Os Estados Unidos apanharam na bola e numa cotovelada, desferida, por Leonardo, sobre Tab Ramos, o que valeu ao canarinho a suspensão pelo restante do Mundial. O esquisito no lance foi que Ramos, ao sair, de maca, com o osso parietal esquerdo fraturado, recebeu o cartão amarelo, por ter seguro o brasileiro, no lance da pancadaria.
Naquele dia, a Seleção Brasileira estava de volta ao Stanford Stadium, em San Francisco, para encarar os donos da festa, os Estados Unidos, em 4 de julho, a data nacional deles. A turma do Tio Sam jogou, nitidamente, para decidir a classificação nos pênaltis. Romário teve um gol anulado, erradamente, aos 8 minutos do segundo tempo, quando o árbitro francês Joel Quiniou viu um impedimento no lance.
Sempre superior, mesmo com um homem a menos, a Seleção de Parreira chegou à vitória, com o gol marcado por Bebeto, aos 27 minutos do segundo tempo. Cafu, que substituíra Zinho e jogava pela esquerda – ele era lateral-direito, reserva de Joginho – serviu Mazinho, que lançou Romário, que livrou-se de Dooley e lançou Bebeto, pela direita da área norte-americana. O baiano bateu rasteiro, à direita do goleiro: 1 x 0 e Brasil a três vitórias do título que não conquistava, há 24 anos.
BRASIL: Taffarel; Jorginho, Aldair, Márcio Santos e Leonardo; Mauro Silva, Dunga, Mazinho e Zinho (Cafu); Bebeto e Romário. ESTADOS UNIDOS: Meola; Clavijo, Lalas, Balboa e Caligiuri; Dooley, Sorber, Tab Ramos e Hugo Perez; Cobi Jones e Stewart. Técnico: Bora Milutinovic. O público foi de 84.147 pagantes.
LARANJA DESCASCADA – Em 9 de julho, o Brasil devolveu à Holanda, a derrota sofrida na Copa de 1974, na Alemanha. Mandou 3 x 2, no Cotton Bowl, em Dallas, em jogo apitado pelo costa-riquenho Rodrigo Bdilla e assistido por 63.500 pagantes.
Sem o suspenso Leonardo, Parreira mandou o substituto Branco tomar conta do perigoso Overmars e recuou Dunga, para qualquer eventualidade. E, assim, os gols só saíram no segundo tempo. Aos 8minutos, o zagueiro Aldir esticou um passe, para Bebeto, pela esquerda. O “ baianinho chorão” lançou Romário,que mandou na rede: 1 x 0. O segundo gol brasileiro foi polêmico e gerou cobrança, do adversário, ao árbitro. Aos 18 minutos, o goleiro holandês, De Goej, deu um chutão, para a frente. Branco, de cabeça, rebateu a bola, que caiu entre Romário, em impedimento, e Bebeto, que dominou o lance, driblou o goleiro (foto) e aumentou: 2 x 0. Depois, saiu “embalando o neném”, em homenagem ao filho Mateus, nascido quando ele já havia viajado.
Um minuto depois do gol, a defesa brasileira bobeou e Holanda diminuiu, com Bergkamp. Pra piorar, ao 31, Winter empatou. O tento da vitória da Seleção, que jogava de azul, saiu aos 36. Branco avançou e foi imprensado, perto da área, por Jonk e Winter. Ele mesmo cobrou a falta, com a bola passando entre Romário e Valckx, para cair no canto esquerdo inferior da trave holandesa: 3 x 2.
BRASIL: Taffarel; Jorginho, Aldair, Márcio Santos e Branco (Cafu); Mauro Silva, Dunga, Mazinho (Raí) e Zinho; Bebeto e Romário. HOLANDA: De Goej; Valckx, Koeman, Rijkaard (Ronald De Boer); Winter, Wouters, Jonk, e Witschge; Overmars, Bergkamp e Van Vossen (Roy). Técnico: Dick Advocaat.
DE NOVO, OS SUECOS – Do Cotton Bowl, em Dallas, para o Rose Bowl, em Los Angeles. Era 13 de julho e o Brasil "reenfrentava" a Suécia. Agora, valia vaga na final. Os suecos, que vinham de uma prorrogação, com a Romênia, foram bombardeados, por 26 chutes brasileiros, e jamais tiveram o domínio do jogo, no qual deram só três chutes a gol. Romário teve três boas chances de gol, mas este só saiu aos 35 minutos do segundo tempo. E de forma esquisita. Jorginho jogou a bola, pelo alto, na área. Romário, com 10 centímetros a menos do que Roland Nilsson, cabeceou para as redes: 1 x 0 e fim de papo. Brasil na final.
A semifinal foi assistida pore 91.856 almas e apitada pelo colombiano Torres Cadena. O Brasil foi: Taffarel; Jorginho, Aldair, Márcio Santos e Branco; Mauro Silva, Dunga, Mazinho (Raí) e Zinho; Bebeto e Romário. A Suécia, do técnico Tommy Svensson, alinhou: Ravelli; Nilsson; Patrik Andersson, Bjorkblund e Ljung; Thern, Mild, Ingesson e Brolin; Dalhlin (Rehn) e Kennet Andersson.
TETRA NOS PÊNALTIS – Foi o primeiro Mundial decidido nos pênaltis. No tempo normal de jogo, enquanto os italianos tiveram quatro chutes ao gol, o Brasil fez 18. Num deles, de Mauro Silva, a bola escapou do goleiro Pagliuca e bateu no seu poste direito,que mereceu um beijo do camisa 1 da Azurra. Em outro lance perigoso, Cafu cruzou, para a pequena área, e Romário errou a conclusão. E ficou nisso.
Vieram as cobranças de pênaltis. Franco Baresi abriu série, chutando por cima da trave. Pra compensar, Márcio Santos permitiu a defesa de Pagliuca. Em seguida, Albertini, Romário, Evani e Branco acertaram as suas batidas. Massaro chutou para a defesa de Taffarel; Dunga conferiu e Roberto Baggio encerrou a Copa, mandando a bola pra fora, muito alta. Brasil 3 x 2 e taça levantada pelo capitão Dunga (foto).
BRASIL: Taffarel; Jorginho (Cafu), Aldair, Márcio Santos e Branco; Mauro Silva, Dunga, Mazinho e Zinho (Viola); Bebeto e Romário. ITÁLIA: Pagliuca; Benarrivo, Mussi (Apolloni), Baresi e Paolo Maldini; Albertini, Dino Baggio (Evani), Berti e Donadoni; Roberto Baggio e Massaro. Técnico: Arigo Saschi. Árbitro: Sandro Puhl, da Hungria. Público: 94.194 pagantes.
TODOS OS RESULTADOS: Estados Unidos 1 x 1 Suíça; Colômbia 1 x 3 Romênia; Romênia 1 x 4 Suíça; Estados Unidos 2 x 1 Colômbia; Estados Unidos 0 x 1 Romênia; Suíça 0 x 2 Colômbia; Camarões 2 x 2 Suécia; Brasil 2 x 0 Rússia; Brasil 3 x 0 Camarões; Suécia 3 x 1 Rússia; Brasil 1 x 1 Suécia; Rússia 6 x 1 Camarões; Alemanha 1 x 0 Bolívia; Espanha 2 x 2 Coreia do Sul; Alemanha 1 x 1 Espanha; Coreia do Sul 0 x 0 Bolívia; Alemanha 3 x 2 Coreia do Sul; Bolívia 1 x 3 Espanha; Argentina 4 x 0 Grécia; Nigéria 3 x 0 Bulgária; Argentina 2 x 1 Nigéria; Bulgária 4 x 0 Grécia; Argentina 0 x 2 Bulgária; Grécia 0 x 2 Nigéria; Itália 0 x 1 Eire; Noruega 1 x 0 México; Itália 1 x 0 Noruega; México 2 x 1 Eire; Itália 1 x 1 México; Eire 0 x 0 Noruega; Bélgica 1 x 0 Marrocos; Holanda 2 x 1 Arábia Saudita; Bélgica 1 x 0 Holanda; Arábia Saudita 2 x 1 Marrocos; Bélgica 0 x 1 Arábia Saudita; Marrocos 1 x 2 Holanda; Alemanha 3 x 2 Bélgica; Espanha 3 x 0 Suíça; Arábia Saudita 1 x 3 Suécia; Romênia 3 x 2 Argentina; Holanda 2 x 0 Eire; Brasil 1 x 0 Estados Unidos; Nigéria 1 x 2 Itália: México 1 x 1 Bulgária (Bulgária 3 x 1 nos pênaltis); Itália 2 x 1 Espanha; Holanda 2 x 3 Brasil; Bulgária 2 x 1 Alemanha; Romênia 2 x 2 Suécia (Suécia 5 x 4 nos pênaltis); Bulgária 1 x 2 Itália; Suécia 0 x 1 Brasil; Suécia 4 x 0 Bulgária e Brasil 0 x 0 Itália (Brasil 3 x 2 nos pânaltis).
CLSSIFICAÇÃO FINAL; 1 - BRASIL; 2 – Itália; 3 – Suécia; 4 – Bulgária; 5 – Alemanha; 6 – Romênia; 7 – Holanda; 8 – Espanha; 9 – Nigéria; 10 – Argentina; 11 – Bélgica; 12 – Arábia Saudita; 13 – México; 14 – Estados Unidos; 15 – Suíça; 16 – Eire; 17 – Noruega; 18 – Rússia; 19 – Colômbia; 20 – Coréia do Sul; 21 – Bolívia; 22 – Camarões; 23 – Marrocos; 24 – Grécia.
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