Em 1966, Brasil não pegou embalo na terra dos Beatles
Este foi um Mundial para os brasileiros esquecerem. De saída, convocaram 45 atletas, para agradar aos eleitores do presidente da CBD, João Havelange, e formaram quatro equipes – grená (titular), branca (B), verde e azul – que treinaram nas mineiras Lambari e Caxambu, e nas então cidades fluminenses de Teresópolis, Tres Rios e Niterói. Em seguida, convocaram Amarildo e Jair da Costa, que jogavam na Itália, sendo que o segundo estava contundido e nem pôde se apresentar.
No meio das bagunças, o preparador físico Paulo Amaral pressionava para ser o auxiliar técnico de Vicente Feola e passava o seu cargo ao judoca Rudolf Hermanny, do qual os atletas cobravam fôlego para além de 75 minutos de partida. O médico Hílton Gosling via, logo, que a artrose num dos joelhos de Garrincha não lhe permitiria assustar nenhum marcador, mas a convocação do Mané era imposição de Havelange, mesmo com “O Torto” não tendo jogado pela Seleção, entre julho de 1962 e junho de 65, devido contusões ou conturbações em sua vida particular.
Ainda no rol das bagunças, o veterano zagueiro Bellini impunha, no grito, a sua ida à Inglaterra, tirando a chance do palmeirense Djalma Dias, que estava bem melhor, enquanto o grande lateral-direito do país da época, o santista Carlos Alberto Torres, perdia vaga para Djalma Santos, de 37 anos, e Fidélis, mediano jogador do Bangu, o time do supervisor Carlos Nascimento. Mais? Em17 de junho, a Seleção embarcava para a Inglaterra, num Boeing 707 da Varig, levando 27 jogadores, quando só poderia inscrever 22 no Mundial. A explicação era a de que ainda haveriam seis amistosos – cinco vitórias e um empate. Enfim, o tri era dado como certo. Principalmente, porque a partir de 1º de maio, quando iniciara a preparação, com jogos-treinos, no Maracanã – 2 x 0 sobre a Seleção Gaúcha e 5 x 0 sobre o Atlético-MG, usando dois times – haviam sido obtidas oito vitórias e dois empates, em amistosos, contra seleções nacionais.
Viera, então, a Copa. Brigado com Paulo Machado de Carvalho – chefe das delegações do bi –, por discordâncias quanto ao treinador, o presidente da CBD, João Havelange, assumiu o comando do grupo que viajou, para ser acusado de omisso e de só fazer política. Em 12 de julho, após tantos treinos, o treinador Vicente Feola – recuperara o cargo que em 1962 ficara com Aymoré Moreira – não tinha um time definido. O adversário era a Bulgária, uma equipe fraca, que viu os canarinhos, fisicamente, piores do que os seus. Fechou-se toda e desceu a botina em Pelé, que foi poupado no segundo jogo, para ter melhores condições de enfrentar os portugueses.
Contra os búlgaros, o Brasil usou cinco jogadores ainda da Copa de 1858 – Gilmar, Djalma Santos, Bellini, Garrincha e Pelé – e escalou Jairzinho na ponta-esquerda, onde ele jamais atuara. Venceu, por 2 x 0, com gols de Pelé, aos 15 minutos do primeiro tempo – primeiro tento daquele Mundial –, e de Garrincha (foto), aos 18 da etapa complementar, ambos em cobranças de falta, mas com a equipe apresentando uma atuação nada empolgante. O jogo, que marcou a última apresentação conjunta de Pelé e Garrincha na Seleção – 31 jogos, em oito anos, sem derrotas – teve 47 mil pagantes e foi no Goodson Park, apitado pelo alemão Kurt Tschencher.
Os canarinhos foram: Gilmar; Djalma Santos, Bellini, Altair e Paulo Henrique; Denílson e Lima; Garrincha, Alcindo, Pelé e Jairzinho. Bulgária: Naidenov; Shalamanova, Penev, Kutzov e Gaganelov; Jetchev e Kitov; Dermendjev, Asparukhov, Yakimov e Kolev.
FIM DE LINHA – Sem o comandante Guilherme Bungner, que não fora requisitado para a viagem à Inglaterra, a Seleção Brasileira começou a sair da Copa no segundo jogo. Em 15 de julho, no Goodson Park, os húngaros repetiram 1954 e voltaram a vencer o Brasil, em um Mundial. Desta nova vez, por 3 x 1 – anteriormente, por 4 x 2 –, após teres sido goleados, por 5 x 3, em novembro de 1965, no Pacaembu, por uma seleção formada só por jogadores de clubes paulistas, que chegaram a abrir 5 x 0 de vantagem.
Em Liverpool, porém, foi bem diferente. Trocando dois atletas – o poupado Pelé, por Tostão, e o sacado Denílson, por Gérson, recuperado de lesão –, Feola recuou Lima. Com dois minutos de jogo, Bene desmoralizou Altair e Bellini, e abriu o placar. Tostão empatou, aos 14. No segundo tempo, aos 9, Farkas complementou, de sem-pulo, um cruzamento, para colocar a Hungria, de novo, na frente. Por fim, aos 19, Paulo Henrique fez pênalti sobre Bene. Meszoly cobrou e fechou a conta. Mas ainda teve um gol húngaro, legal, marcado por Farkas e anulado pelo bandeirinha peruano Arturo Yamazaki, alegando um impedimento.
Coincidentemente, desde a derrota de 1954, para os húngaros, que o Brasil não perdia em Copas do Mundo. Eram 12 anos, ou 13 jogos invictos. E a última partida de Garrincha pela Seleção. Diante de 51.387 presentes, o Brasil deu vexame com: Gilmar; Djalma Santo, Bellini, Altair e Paulo Henrique; Lima e Gerson; Garrincha, Alcindo (foto), Tostão e Jairzinho. Hungria: Gelei; Kaposzta, Matrai, Meszoly e Szepesi; Mathesz, Sipos e Rakosi; Bene, Albert e Farkas. O inglês Kenneth Dagnakl apitou a partida.
A GLÓRIA DE PORTUGAL – Treinada pelo brasileiro Oto Glória, a Seleção de Portugal, também, fez 3 x 1 sobre o Brasil, no final da participação canarinha no Mundial-66. Foi em 19 de julho, no mesmo Goodson Park. Para o jogo, Vicente Feola trocara nove jogadores. Dos que haviam encarado a Hungria, só ficaram Lima e Jairzinho, este passando, da ponta esquerda, para a direita. Para Oto Glória, o Brasil tinha uma de suas piores seleções. E não deu outra. Aos 15 minutos, o grande goleiro botafoguense Manga falhou, clamorosamente, e Simões fez 1 x 0. Aos 26, voltou a falhar e Eusébio não o perdoou. Aos 28 do segundo tempo, Rildo diminuiu, mas, aos 40, Eusébio encerrou o castigo aos brasileiros.
Para os canarinhos, restaram as reclamações contra o árbitro inglês George McCabe, que deixara o zagueiro português Morais aplicar duas entradas violentas sobre Pelé, aos 31 minutos da primeira etapa, anulando-o para o restante do jogo. O “Rei” só voltou a campo, aos quatro minutos do segundo tempo, depois de passar por uma infiltração, com um dos joelhos enfaixados, para ficar só capengando. Segundo as anotações da partida, Pelé só sofrer três faltas, antes de ser atingido por Morais.
A Seleção Brasileira (foto) foi: Manga; Fidélis, Brito, Orlando e Rildo: Denílson e Lima; Jairzinho, Silva, Pelé e Paraná. Portugal: Pereira; Batista, Morais, Vicente e Hilário; Graça e Coluna; José Augusto, Eusébio, Torres e Simões. O jogo foi assistido por 58.479 pessoas.
INGLESES LEVARAM A TAÇA - Na fase inicial, os ingleses não saíram de Londres. Empataram com o Uruguai, por 0 x 0, e venceram o México e a França, pelo mesmo placar: 2 x 0. Nas quartas-de-final, eliminaram os argentinos, por 1 x 0, novamente em Wembley, num jogo muito tumultuado, em que os sul-americanos agrediram o árbitro alemão Rudolf Kreitlein.
Nas semifinais, a Inglaterra, sempre jogando em Londres, despachou Portugal, com 2 x 1. Os lusitanos estavam cheios de moral, por terem virado, para 5 x 3, um jogo em que chegaram a estar perdendo, por 0 x 3, para a Coréia do Norte. Esta, por sinal, aprontara a maior zebra do Mundial, nas fase preliminar, vencendo (e eliminando) a Itália, por 1 x 0. Na outra semifinal, a Alemanha fez 2 x 1 na União Soviética.
Em 30 de julho, em Wembley, as seleções da Inglaterra e da Alemanha saíam para a decisão da Copa. O público era estimado em 100 mil pessoas. Doze minutos após o árbitro suíço Gottfried Dienst mandar rolar a bola, o alemão Haller calou a torcida inglesa. Seis minutos depois, Hurst empatou, e ficou assim o primeiro tempo. No segundo, os 33, Martin Peter colocou os anfitriões na frente, mas, aos 5, Weber voltou a deixar a final empatada. Foi preciso uma prorrogação.
Dois gols de Geoffrey Hurst, aos 11 e aos 30 minutos, deixaram os ingleses campões, com um placar acumulado de 4 x 2. Treinados por Alf Ramsey, um ex-lateral mediano, marcador rigoroso, que havia disputado a Copa de 1950, os organizadores do moderno futebol ainda tiveram em Bobby Charlton o melhor jogador daquele Mundial. O artilheiro foi o português Eusébio, com nove tentos.
A Inglaterra jogou a final com: Banks; Cohen, Jack Charlton, Bobby Moore e Wilson; Nobby Stiles e Bobby Charlton; Alan kBall, Hurst, Roger Hunt e Peters. Alemanha: Tillkowsky; Hottges, Schulz, Weber e Schinellinger; Beckenbauer, Halller e Overath; Seeler, Held e Emmerich.
TODOS OS RESULTADOS: Inglaterra 0 x 0 Uruguai; França 1 x 1 México; Uruguai 2 x 1 França; Inglaterra 2 x 0 México; México 0 x 0 Uruguai; Inglaterra 2 x 0 França; Alemanha 5 x 0 Suíça; Argentina 2 x 1 Espanha; Espanha 2 x 1 Suíça; Alemanha 0 x 0 Argentina; Argentina 2 x 0 Suíça; Alemanha 2 x 1 Espanha; Brasil 2 x 0 Bulgária; Portugal 3 x 1 Hungria; Hungria 3 x 1 Brasil; Portugal 3 x 0 Bulgária; Portugal 3 x 1 Brasil; Hungria 3 x 1 Bulgária; União Soviética 3 x 0 Coreia do Norte; Itália 2 x 0 Chile; Chile 1 x 1 Coreia do Norte; União Soviética 1 x 0 Itália; Coréia do Norte 1 x 0 Itália; União Soviética 2 x 1 Chile; Inglaterra 1 x 0 Argentina; Alemanha 4 x 0 Uruguai; Portugal 5 x 3 Corei do Norte; União Soviética 2 x 1 Hungria; Alemanha 2 x 1 União Soviética; Inglaterra 2 x 1 Portugal; Portugal 2 x 1 União Soviética e Inglaterra 4 x 2 Alemanha.
CLASSÍFICAÇÃO FINAL – 1 – Inglaterra; 2 – Alemanha; 3 – Portugal; 4 – União Soviética; 5 – Argentina; 6 – Hungria; 7 – Uruguai; 8 – Coréia do Norte; 9 – Itália; 10 – Espanha; 11 – BRASIL; 12 – México; 13 – França; 14 – Chile; 15 – Bulgária e 16 – Suíça.
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