quarta-feira, 7 de abril de 2010

1968: O ANO QUE NÃO DEVERIA TER TERMINADO PARA O BOTAFOGO

Naquele tempo, o Campeonato Carioca era o mais charmoso do futebol brasileiro. O país inteiro o acompanhava, pelo rádio. O Paulista, também, era uma parada, mas perdia, em glamur, para o da Cidade Maravilhosa.
Pois bem! Em 1968, o time da moda era o Botafogo, que já havia conquistado a Taça Guanabara, ainda uma disputa à parte, e o Estadual, um ano antes, com Mário Jorge Lobo Zagallo nos inícios de sua carreira de treinador. A temporada fora demais: Botafogo campeão da Taça Guanabara, do Carioca e da Taça Brasil, o embrião do atual Campeonato Brasileiro.
Gloriosos tempos! O Botafogo jogava com tanto conjunto e juventude empolgantes, que todo garoto que começava a gostar de futebol queria ser botafoguenses. Naquele timaço, armado pelo Lobo, só o maestro Gérson e o zagueiro Sebastião Leônidas eram veteranos. Trabalhar com a juventude era o que o Zagallo mais sabia, afinal conquistara o Campeonato Carioca de Juvenis, em 65, revelando Afonsinho e muitos outros cobrinhas.
O Botafogo até que poderia ter feito a dobradinha dos mesmos títulos em 67 e 68, se não fosse uma incrível decisão no cara-ou-coroa, com o Atlético-MG, o que o tirou da Taça Brasil. Por falar nesta, a final da última disputa daquela competição, a de 68, até que foi mole. Colocar o grande Botafogo, de Rogério Hetmaneck, Jairzinho, Roberto Miranda e Paulo César Lima, diante do Metropol, de Criciúma-SC, foi até uma covardia do destino. Mas o grande lance mesmo daquele supertime de “Seu Zagallo” aconteceu na decisão carioca de 68, mais precisamente no dia 9 de junho: 4 x 0 em cima do Vasco, num domingo em que o Maracanã bateu os recordes nacionais de público – 120 mil e 178 pagantes – e de renda – NCr$ 513 milhões, 379 mil e 25 novos cruzeiros, a moeda da época.
CATIMBA - Guerra-fria foi o que não faltou na semana da decisão carioca de 1968. A torcida alvinegra falou em raptar o goleiro vascaíno Pedro Paulo, o atacante cruzmaltino Bianchini soltou a língua contra seu ex-clube e os cartolas alvinegros falaram em antidoping para os jogadores do Vasco. Fora de campo, a polícia mandava avisar que prenderia quem soltasse foguetes ou bombas no estádio. Além do mais, o árbitro escalado para o clássico, Armando Marques, o então melhor do país, fora pressionado a indicar os auxiliares da arbitragem.
Passada a catimba pré-jogo, ainda teve a de última hora. Por não quererem entrar em campo, antes um do outro, os dois times atrasaram o início da partida em 21 minutos. Foi preciso muita conversa entre a cartolagem para ambos entraram juntos, debaixo de muito foguetório e chuva de papel picado. Quando a bola rolou, só deu Botafogo. O Vasco não o ameaçou em nenhum momento. Com 14 minutos de jogo, Roberto Miranda estufou as redes vascaínas. Aos 33, Rogério fez mais um, para os alvinegros virarem o primeiro tempo com 2 x 0 no placar.
Na etapa final, foi a mesma festa. Jairzinho aumentou, para 3 x 0, aos 17 minutos, e Gérson fechou o placar, aos 20. Por sinal, quando o "Canhota" balançou a rede, os reservas botafoguenses invadiram o gramado, comemorando já o título. Foram todos expulsos de campo, o que impediu Zagallo de fazer as substituições que pretendia no segundo tempo. Pra piorar, na comemoração do gol, Zagallo bateu com o nariz na máquina de um fotógrafo.
CANHOTINHA DE OURO - Gérson, que levantou a taça, no final da partida, foi a maior figura em campo. Naquela tarde, ele interceptou, desarmou, armou, atacou, defendeu e cantou as jogadas alvinegras. Além dele, Sebastião Leônidas mandou na zaga, enquanto Carlos Roberto, no meio-de-campo, e Rogério e Jairzinho, no ataque, foram outros destaques, o que não houve no time vascaíno.
A goleada botafoguense valeu o bicho de NCr$1.500 (novos cruzeiros), enquanto os reservas levaram 500 a menos. Já o prêmio pelo título ficou de ser fixado, depois. Para fechar as comemorações, os campeões foram recebidos, no dia seguinte, no Palácio Guanabara, pelo governador Negrão de Lima.
FICHA TÉCNICA - Data: 09.06.1968; Local: Maracanã. Gols: Roberto, aos 14, e Rogério, aos 33 min do 1º tempo; Jairzinho, aos 17, e Gérson, aos 20 min do 2º tempo. Árbitro: Armando Marques, auxiliado por Antônio Viug e Amílar Ferreira. Público: 120 mil e 178 pagantes e 21.511 menores. Renda: NCr$: 13.379,25 (novos cruzeiros, moeda da época). BOTAFOGO: Cao; Moreira, Zé Carlos, Leônidas e Valtencir: Carlos Roberto e Gérson; Rogério, Roberto, Jairzinho e Paulo César. Técnico: Mário Jorge Lobo Zagallo. VASCO: Pedro Paulo; Jorge Luís Brito, Ananias (Sérgio) e Ferreira; Bougleux e Danilo Menezes; Nado (Alcir), Nei, Valfrido e Silvinho. Técnico: Paulinho de Almeida.

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