domingo, 6 de junho de 2010

JOGOS HISTÓRICOS – BRASIL 2 X 0 BULGÁRIA - 1966

Foi a festa das festas. Tinha-se o tri com certo. Tanto que, para satisfazer a todos os cartolas, a então Confederação Brasileira de Desportos (CBD) convocou 47 jogadores para os treinos. No dia 17 de junho de 1966, a delegação brasileira partiu, para a Inglaterra, com grande torcida comparecendo ao embarque.
O primeiro a chegar foi o lateral-direito Fidélis, do Bangu, clube do supervisor Carlos Nascimento, que provocou a dispensa do melhor jogador da posição, Carlos Alberto Torres. Saudado, festivamente, pelos presentes ao aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, o banguense aproveitou para ir à praia, ao lado, jogar um flor na água. Esperava lhe dar sorte.
No festejado “embarque para o tri” estiveram presentes diversos cartolas, entre eles os presidentes Luís Murgel, do Fluminense, Nei Cidade Palmeiro, do Botafogo, Veiga Brito, do Flamengo e outros nomes de peso em seus clubes, como o vascaíno Antônio Calçada, o alvinegro Otávio Pinto Guimarães, o tricolor Dílson Guedes, o treinador botafoguense Admildo Chirol, junto com os jogadores Dimas e Mura, só para citar poucos. A balbúrdia no aeroporto era tanta, que os jogadores paulistas, chegados ao Rio em um voo especial, tiveram de ficar na sala destinada aos passageiros em trânsito. Até o comandante Bungner, o piloto que transportara as seleções de 58 e 62, virou estrela, muito filmado e solicitado para fotos.
Entre os jogadores, Paulo Henrique, lateral do Flamengo, precisou de cordão de isolamento para entrar no Galeão. O meia botafoguense Gérson levava vários livros de contos policiais para ler durante a viagem. O seu colega e goleiro Manga recebera autorização para embarcar na escala em Recife. O zagueiro vascaíno Fontana revelava a promessa de doar Cr$ 1 milhão de cruzeiros a uma instituição de caridade, caso voltasse tri. Já o tricolor Altair jurava não ter feito promessa nenhuma. Preferia colar na esposa. Ao contrário dele, outro tricolor, o volante Denílson, entre um autógrafo e outro, não escondia ter aceso velas, diariamente, para Nossa Senhor do Rosário ajudá-lo.
Durante confusão para o embarque, Amarildo perdeu uma maleta de mão. Uma faixa, com letras berrantes, escrito “Avante Brasil. Vai dar Zebra em Londres”, dava zebra er para o atacante. Mais sorte tivera Tosão, que conseguira fazer uma ligação telefônica, embora se recusando a dizer para quem. Enquanto isso, Alcindo sofria com os caçadores se suvenir, que queriam a sua gravata. Evidentemente, que Pelé foi o mais saudado. Mas ninguém conseguiu chegar perto dele. Mais malandro foi o “xerifão” cruzmaltino Brito, que aproveitou o clima de euforia, para discutir renovação de contrato com os cartolas de São Januário. Enquanto isso, Helena, a mulher do lateral Rildo, contava que era a primeira vez que ela comparecia a um embarque do marido.
De acordo com empregados da Varig, a delegação levava 825 quilos em bagagem. Só o roupeiro Aristides juntara 1.200 travas de chuteiras, altas e médias. O Boeing 707, para o vôo 834, da Varig, levando 27 jogadores, quando só poderia inscrever 22 no Mundial, deveria partir às 22h30. Teve saída antecipada, para as 22h, mas só decolou às 22h35. O primeiro a chegar ao aeroporto foi Carlos Nascimento, e João Havelange, o presidente da CBD, o último a embarcar. De carona, viajou, também, o árbitro Armando Marques, muito saudado pelos torcedores.
Na Europa, a seleção fez este diário: 18.06 - pousou na Espanha e hospedou-se no hotel Wellington; 21.06 - amistoso com o Atlético de Madrid, no Estádio Chamartin; 22.06 – viagem para a inglesa Londres e a escocesa Glasgow, hospedando-se no Marina Hotel, em Troon; 23.06 - treino no Estádi Kilmarnock, perto de Troon; 24.06 coletivo no Hampden Park; 25.06 – amistoso, contra a Escócia; 26.06 - viajou para Londres e a sueca Estocolmo, onde almoçou, no aeroporto, com jornalistas, seguindo-se viagem, de ônibus, para Atvidaberg e hospedagem no Hotel Stllet; 27 e 28.06 – treinos; 29.06 - viajou para Gotemburgo e hospedou-se no Hotel Park Avenue; 30.06 – amistoso, com a seleção sueca; 1º.07 – volta para Atividaberg e dois dias de treinos; 04.07 – volta a Estocolmo, homenagens na embaixada brasileira e amistoso com o AIK; 05.07 - nova visita à embaida e viagem para Malmoe. 06.07 – amistoso com o Malmoe; 07.07 - viagem para a inglesa Mancheter, com escala na dinamarquesa Copenhague; 08/9/10/11.07 - treinos em Bolton.
ROLA A BOLA - Eram 19h30 locais – 15h30 no Brasil – do dia 12 de julho, quando a seleção do técnico Vicente Feola rolou a bola, em busca do tri. O jogo, apitado pelo alemão Kurt Tschencher, foi contra a Bulgária, no estádio do Everton, o Goodson Park, em Liverpool, diante de 47 mil pagantes. Ligados no rádio, pois ainda não havia transmissão direta pelas TVs brasileiras, os torcedores nem imaginavam que aquela seria a última partida em que a dupla Garrincha-Pelé atuaria junta. Em oito anos de parceria, 31 jogos, sem derrotas, pela Seleção Brasileira.
Vicente Feola escalou cinco jogadores que usara no Mundial 1858 – Gilmar, Djalma Santos, Bellini, Garrincha e Pelé – e Jairzinho na ponta-esquerda, onde ele jamais atuara, para encarar os búlgaros. Até que funcionou. Aos 15 minutos do primeiro tempo, Pelé cobrou falta e marcou o primeiro gol da VIII Copa do Mundo. E, por 1 x 0, no primeiro tempo, o time canarinho animava todo o Brasil. Veio a segunda etapa e, aos 18 minutos, em nova cobrança de falta, Mané Garrincha, de pé direito, mandava uma curva na bola, que o goleiro búlgaro Naidenov não conseguia parar: 2 x 0, fim de papo e mais esperanças de tri.
A vitória, no entanto, não dava para enganar. Os canarinhos, fisicamente, mostraram-se piores do que os jogadores búlgaros, que formavam uma equipe fraca, toda fechada e que só sabia descer a botina sobre Pelé. Tanto que deixaram o “Rei” (desenho) em péssimas condições para o segundo jogo, contra a Hungria, três dias depois, no mesmo estádio, onde o Brasil caiu, por 3 x 1, poupando seu camisa 10 – entrou Tostão – trocando Denílson, por Gérson, recuperado de lesão, e recuando Lima. Aquela, por sinal, fora a última partida de Garrincha com a camisa da Seleção.
Assim, o “saldo” da vitória sobre a Bulgária foi o fim de uma invencibilidade de 12 anos, ou 13 jogos invictos em Copas do Mundo. A última derrota fora para a mesma Hungria, por 4 x 2, no Mundial de 1954, na Suíça. Por fim, em um Mundial para ser esquecido, a Seleção Brasileira foi eliminada ainda na primeira fase, em 19 de julho, também, no Goodson Park, com os 3 x 1 impostos por Portugal.
FICHA TÉCNICA
Local: Goodson Park, em Liverpool (ING)
Árbitro: Kurt Tschencher (ALE)
Gols: Pelé, aos 15 min do 1º tempo, e Garrincha, aos 18 min do 2º tempo.
Público: 47 mil pagantes.
Brasil: Gilmar; Djalma Santos, Bellini, Altair e Paulo Henrique; Denílson e Lima; Garrincha, Alcindo, Pelé e Jairzinho.
Bulgária: Naidenov; Shalamanova, Penev, Kutzov e Gaganelov; Jetchev e Kitov; Dermendjev, Asparukhov, Yakimov e Kolev.
O CARA
Nome: Edson Arantes do Nascimento (Pelé).
Nascimento: 23 de outubro de 1940, em Três Corações (MG).
Onde jogou: Santos (SP), Seleção Brasileira, Cosmos (EUA).
Principais títulos: Copas do Mundo de 1958/62/70; Mundial Interclubes de 1962/63; Taça Libertadores de 1962/63; Recopa Sul-Americana e dos Campeões Intercontinentais de 1968; Taça Brasil de 1961/62/63/64/65; Torneio Roberto Gomes Pedrosa de 1968; Torneio Rio-São Paulo de 1959,1963,1964,1966; Estadual Paulistas de 1960/61/62/64/65/67/68/69/73.

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