domingo, 19 de dezembro de 2010

FLUPEÃO-1984

                      O PRIMEIRO TÍTULO BRASILEIRO DO FLUMINENSE
 O goleiro Paulo Victor Barbosa Carvalho tinha 26 anos de idade – nasceu em 7 de junho de 1957, em Belém do Pará –, quando viu o vascaíno Arthurzinho aproximando-se de suas traves, livre de marcação, na tarde daquele 27 de maio de 1984. Sem contar os caronas, 128.160 torcedores – recorde de público pagante brasileiro até então – estavam de olho nele. A torcida do Vasco levantou-se, para gritar o gol que poderia levar a decisão do Campeonato Brasileiro a uma terceira partida – o Flu r 1 x 0, na noite da quinta-feira, 23. No entanto, ele garantiu a festa tricolor, como conta:
“Fiquei parado, quando vi o Arthurzinho chegando na pequena área. Dei um passo à frente, para tirar-lhe o ângulo de chute. Mesmo assim, ele bateu para o gol. Fiz a única coisa possível: atirar as minhas pernas, para acertar a trajetória da bola. Deu certo”, relembra do lance que valeu o título (foto).
Assim que o árbitro Romualdo Arpi Filho encerrou o jogo, Paulo Victor saiu, em disparada. “Roubou” a bola do jogo e disse para o homem de preto: “Me desculpe, Seu Romualdo, mas esta aqui é minha. É a recordação da defesa mais importante que já fiz” – na conclusão de Arturzinho.
Além do chute quase fatal de Arthurzinho, Paulo Victor saiu da área, por três vezes, para interceptar ataques vascaínos. Em todos, chutou a bola para a lateral do gramado. Ele não se lembro mais com qual dos pés “castigou a gorduchinha”, como brinca, e nem se foi para a direita, ou para a esquerda.
Paulo Victor guarda, com orgulho, um recorte do jornal carioca “O Globo”, que lhe dá nota máxima (única) na análise dos repórteres Átila Santos, Antonio Roberto Arruda, Carlos Silva, Chico Nélson, Danilo Mirales, Fernando Paulino Neto, Marcelo Matte, Marcelo Penido, Nélson Borges, Paulo César Martins, Paulo Roberto Pereira e Sílvia Moretzsohn, sobre as atuações dos jogadores dos dois times. Diz o texto: “Paulo Victor – Só fez uma defesa em todo o jogo: aos 40 minutos do segundo tempo, num chute de Arthurzinho. Uma defesa que garantiu o título à equipe tricolor. Nota 10”’.
ANTECIPADAMENTE – Passados 26 anos, seis meses e oito dias da conquista daquele título de campeão brasileiro da Série A, Paulo Victor revela que o Fluminense tinha tanta certeza de que carregaria a taça, a ponto de brindar o feito antes do jogo.
“Estávamos concentrados no Hotel Nacional. Antes do almoço, que saiu por volta de uma da tarde, o presidente Manoel Schwartz, o vice de futebol Antônio Castro Gil e vice jurídico Luís Carlos Vilela, brindaram a conquista ‘timtimlando’ copos com cerveja. O clima era de tanto otimismo, que ninguém demonstrava tensão, nervosismo”, garantiu, inventando um neologismo para o brinde com “timtim’.
Um exemplo da descontração tricolor durante os momentos que antecediam à final, Paulo Victor conta sobre uma brincadeira que ele fez, no hotel, com o supervisor Newton Graúna. “O cara usava um tênis branco, novinho tipo ‘cheguei’. Peguei no pé dele. Como um amigo nosso havia viajado, acho que aos Estados Unidos, e fiquei sacaneando, dizendo que ele fizera o cara viajar descalço e que ele usava um ‘tênis de viagem’. Sacou a saca?”
Com uma memória de fazer inveja, Paulo Victor não se esquece de um detalhe do dia do final: fora o primeiro atleta a deixar o quarto, para o café matinal. No trajeto para o restaurante, “por volta das 08h00”, encontrou-se com o Coronel Calomino, a quem avisou: “Sempre que marco gol durante os treinos recreativos, nós vencemos, no dia seguinte. Ontem, mandei o ‘mané’ buscar a bola no fundo do barbante duas vezes. Se acontecer o que rolou no outros jogos, prepare a faixa, coronel!”
A memória do goleiro de 1974 lhe faz lembrar, também, que o presidente Manoel Schwartz chegou ao hotel, acompanhado pelo ex-atleta tricolor Carlos Alberto Torres, “lá pelas 11h, tirando onda de beijoqueiro”. Na brincadeira, acrescenta: “Tato, Duílio, Ricardo (Gomes), Assis e Branco, que o homem encontrou pelo hall de entrada, contaram terem sido as primeiras vítimas dos beijos presidenciais”.
CARDÁPIO DE CAMPEÃO – Antes de “jantar” taças e faixas, Paulo Victor almoçou um churrasco, acompanhado de saladas e um buffet . Depois, entrou no elevador e foi descansar em seu quarto. Desceu, “por volta das 14h30”, quando o treinador Carlos Alberto Parreira fez uma prelação, “na sobreloja”, segundo ele, de uns 35 minutos. “O professor foi simples , direto e objetivo. Pediu, apenas, para mantermos a aplicação tática e a determinação de vitória do jogo anterior. Fora isso, analisou as possíveis fórmula pelas quais o Vasco poderia tentar nos surpreender”. (foto)
Depois de lembrar da palavra do treinador, Paulo Victor recordou-se de mais um detalhe: “O nosso (futuro) deputado Delei (Paiva, do PV, nos dois últimos mandatos, e não reeleito, no recente outrubro) já fazia campanha, por aquela época. Quando o professor passou a palavra à rapaziada, ele levantou-se e mandou ver. Disse que a nossa torcida não merecia derrota, e exigiu o caneco, com aquela tradicional frase manjada: ‘O título será a nossa consagração’. ‘Manezão!’ Só ele sabia disso. E que deputado chorão, rapaz! Quando o jogo acabou, ele botou o bumbum no centro de campo, e disparou a chorar, encobrindo o rosto com as mãos. Da minha parte, eu vibrava, ouvindo a galera gritar o meu nome, enquanto caminhava para o vestiário”, relata.
Outro fato que Paulo Victor não esquece é do ônibus com a delegação tricolor deixando o hotel, rumo a Maracanã. Afirma que Parreira foi o último a “adentrar ao buzu” e que, quando o carro começou a rodar, o “professor” olhou no relógio e observou: “Já são 15h18”.
BOLA ‘REROUBADA’ – Como o policiamento fora muito forte no dia daquela final de 1984, Paulo Victor pôde sair de campo com o uniforme de jogo, que guarda, ainda, em uma espécie de galeria, em seu apartamento, repleta de troféus e fotografias, como esta carregando o trofeu de capeão. Só não tem mais a bola roubada de Romualdo Arppi Filho –  ficou com a sua ex-mulher. 
“Teve ‘mané’ que trocou camisa com os vascaínos. O Tato, por exemplo, o vi trocando a dele, como Edevaldo, que tinha jogado com a gente. ‘Manezão!’ Ele havia contado pra gente que seus pais e dois tios, junto com as “tias’, estavam no Rio, pra assistirem as finais. Poderia ter presenteado os pais com a relíquia. Aquilo era pra guardar pros netos”, filosofa o ex-goleiro, que já é avô de três netas.
Enquanto sacaneia Tato, Paulo Victor dá nota dez para o lateral-esquerdo Branco. “Enquanto a gente comemorava, o gaúcho dizia que tiraria dois milhões (de cruzeiros, dos dez milhões prometidos, como prêmio, pelo título), para um avião levá-lo até Bagé (fronteira do Rio Grande do Sul, com o Uruguai), para comemorar com a família. Bonito isso!”, aplaude.
Título papado – o arbitro levou a partida até os 46 minuto do segundo tempo –, Paulo Victor não viu quase mais vascaínos no estádio, quando a turma tricolor dava a volta olímpica, evidentemente, em clima de muita comemoração da torcida que lotava o lado esquerdo das arquibancadas do 'Maraca' e a “geral” – setor que deixou de existir, há pouco tempo, por imposição da Fifa. Recebia o torcedor de menor poder aquisitivo, que assistia ao jogo em pé. Durante as comemorações no vestiário, o ultimo a chegar, acha ele, foi o camisa 10 Assis. “Chegou com o troféu de melhor do jogo, cansadão. Não sei como não engoliu tantos microfones que puseram diante dos seus dentes. Ainda escutei ele declarando: ‘Foi a vitória da garra. Aprendeu o discurso do deputado Delei”, sacaneia.
Os recortes de jornais guardados por Paulo Victor mostram Assis declarando, também, que o título chegara, “por merecimento”. Citava que o Vasco havia pressionado no primeiro tempo e que o Flu atacara mais velozmente, na fase final, “quando criamos as melhores chances de vitória. Eu perdi três, se bem que o (goleiro) Roberto Costa tivesse me atrapalhado, com excelentes saídas de gol”, dissera.
Por aquele tempo, Assis formava com o baiano Washington, uma terrível dupla goleadora, que a imprensa carioca apelidou por “Casal 20”, em alusão a um seriado da TV norte-americana que tinha marido e mulher se metendo em encrencas e, sempre, derrotando o mau, para o bem do “bem”. Paulo Victor conta que Washington, depois do jogo, raspou a barba, “para acertar contas com o Homem Lá de Cima”, fato confirmado, também, pelos seus recortes de jornais. “Coisa de baiano”, volta a brincar o ex-goleiro, que era conhecido, em seus tempos de Ceub e Brasília, como o mais gozador dos jogadores. “Leia só isto aqui”, aponta para as explicações do atacante: “Quando saí de casa (para as Laranjeiras), antes do primeiro jogo com o Vasco, olhei para o Cristo Redentor e decidi tirar dois dedos de prosa com ele, que me deu forças nesta decisão. Agora, vou lhe pedir licença pra tirar a barba”, está escrito num jornal carioca.
INIMIGO NO PEDAÇO – Uma atitude muito elogiada por Paulo Victor daquela final foi o comparecimento do meia vascaíno Mário, que havia sido cria do Flu, ao vestiário tricolor, para parabenizar o zagueiro Ricardo Gomes, seu grande amigo. “Eles eram chapinhas, desde os tempos de seleção (brasileira) pré-olímpica. Muito bonito aquilo, ainda mais porque nós não perdemos a oportunidade para gozá-lo. O cara tinha, nos cabelos, o desenho de uma estrela cruzmaltina, que não ajudou a dar Vasco na cabeça”, sacaneia.
Assim colo elogiou a atitude de Mário, o camisa um tricolor elogiou, também, atitude idêntica, do preparador físico tricolor, Admildo Chirol, que não escondia a sua admiração pelo vigor físico do adversário – principalmente, no primeiro tempo e inícios da etapa final – e foi ao vestiário do Vasco cumprimentar o colega Antônio Mello.
JOGO DO ALÉM – O Fluminense foi campeão brasileiro, em 1984, sem nenhuma ajuda extraterrestre. É o que garante o seu goleiro do título, Paulo Victor. “No máximo, fazíamos uma reza coletiva, pedindo proteção a Deus, pra ninguém se contundir. Aquilo era acompanhado por um Pai Nosso e uma Ave Maria”.
Para o atacante paraguaio Romerito, o sucesso na campanha fora, muito mais, causa de “muito espírito de luta, união e disposição para morder a grama, se necessário”, declarações mostradas, por Paulo Victor, num do seus recortes de jornais sobre a final. Na mesma matéria, o volante Jandir dizia que o “momento determinante” da final fora o início do segundo tempo, quando Roberto perdera um gol. (foto) “Depois, espanei duas bolas que poderiam terminar em gol”, lembrou. De sua parte, o lateral Aldo, sobre quem o Vasco forçara o jogo, no primeiro tempo, o jogo não lhe pareceu decisão de campeonato, pois vira o adversário jogando no desespero. “No intervalo, o Parreira corrigiu o defeito de marcação, pela direita, colocando o Delei para me ajudar”, contou.
Paulo Victor não esqueceu de elogiar o médico Arnaldo Santiago, por ter vetado o machucado lateral-esquerdo Branco, para o primeiro jogo, e o recuperado para a finalíssima. E, é claro, elogiou, também, o capitão Duílio, que fizera uma grande partida. Mostrou uma declaração do colega: “Todo mundo dividiu todas e não há ninguém que possa contestar o nosso título”.
O título tricolor saiu nu jogo em que o clube arrecadou Cr$ 252 milhões, 430 mil cruzeiros, da renda de Cr$ 638 milhões, 160 mil cruzeiros. E quem estava entre os “não-pagantes” era o deputado federal Dante de Oliveira (PMDB-MT), autor da emenda sobre o restabelecimento das eleições diretas para presidente da República, naquele ano. Torcedor do Flu, Dante ouviu a galera gritar: “Diretas, diretas, diretas. Um, dois, três, quatro cinco mil, queremos eleger o presidente do Brasil!” Mas não deu, daquela vez. Só deu Flu. e ele, que foi parar na Seleção Brasileira (foto).
FICHA TÉCNICA
Fluminense 0 x 0 Vasco
Data: 27.05.1984. Local: Maracanã. Árbitro: Romualdo Arppi Filho, auxiliado por Emídio Marques Mesquita e José de Assis Aragão. Público: 128.781 pagantes. Renda: Cr$ 638 milhões e 160 mil cruzeiros (recorde brasileiro da época).
Fluminense: Paulo Victor; Aldo, Duílio, Ricardo Gomes e Branco; Jandir, Delei e Assis; Romerito, Washington e Tato. Técnico: Carlos Alberto Parreira.
Vasco: Roberto Costa; Edevaldo, Ivan, Daniel Gonzalez e Aírton; Pires, Mário e Arthurzinho; Jussiê (Marcelo), Roberto Dinamite e Marquinho. Técnico: Edu Coimbra.
Os campeões anteriores haviam sido: Atlético-MG (1971); Palmeiras (72/73); Vasco (74); Internacional (75/76); São Paulo (77); Guarani de Campinas (78); Internacional (79); Flamengo (80); Grêmio (81) e Flamengo (82/83). O Fluminense decidiu, em 1984, com a defesa menos vazada do Brasileiro – 13 gols –, contra o ataque mais positivo, o vascaíno, com 51 bolas nas redes, 16 mandadas por Roberto Dinamite e 14 por Arthurzinho.
 PARREIRA, O CHORÃO - Assim que o árbitro Romualdo Arppi Filho, que tinha o apelido de “Ganso”, apitou o final doCampeoanto Brasileiro de 1984, o treinador do Fluminense, Carlos Alberto Parreira (foto), foi o primeiro tricolor a ir para o vestiário. Sentou-se e desabou a chorar. Era uma descarga de tantas emoções acumuladas, de tanto ouvir e ler que ele “era um técnico sem títulos”. Agora, não podiam mais cobrar.
Parreira temia muito pelo seu futuro na carreira. Ser campeão, naquele 27 de maio, era a chance de parar de ser rotulado de “teórico que jamais chutara uma bola”, como tentavam diminuir-lhe, o comparando ao “Capitão Cláudio Coutinho” – ex-técnico do Flamengo e da seleção brasileira, que incluíra no dicionário do futebol canarinho os termos “over laping” e ponto futuro.
De tanta preocupação com o placar, aos cinco minutos do primeiro tempo, vendo o Vasco “aditivado por um motor turbinado”, Parreira pediu, logo, ao preparador físico Admildo Chirol, para aquecer o zagueiro Vica e o meia René. Teria que garantir o empate, de qualquer jeito. Mas nem precisou usá-los, pois sua rapaziada se segurou bem. Aos 38 minutos, Parreira foi ao desespero, chegando a dar três murros no gramado, anormal para sujeitos educados e serenos, como ele. Tudo porque Assis e Washington perderam uma excelente chance de gol. Realmente, coisa de fazê-lo levar as mãos à cabeça e sentar-se, desolado, no banco dos reservas.
Famoso por gravar partidas inteiras, em slides (tipo de fotografia já fora de uso), na manhã da final daquele 1984, Parreira trocou as modernidades da tecnologia da época, por certas “baianidades”, revelando um lado desconhecido pela torcida: o de superticioso. Acordou às 09h30 e rumou para a praia da Barra da Tijuca. Contemplou a imensidão do mar e caiu nas águas frias do seu Rio, para tomar um “banho de descarrego”. Depois de “bater um papinho”, com Iemanjá, a Rainha do Mar, vestiu uma camisa branca, “para lhe dar sorte”.
Mesmo animado por seus “contatos imediatos em outros níveis”, Parreira chegou tenso ao Maracanã. Falava pouco e evitava a turma do microfone. Quando a sua rapaziada entrou em campo, sentou-se no banco dos reservas e avisou aos repórteres que não falaria enquanto a bola rolasse. Depois,ficou de pé, com os cotovelos beira do gramado. As vezes, comentava algum lance, com Admildo Chirol. Quando o Vasco esquentou a pressão, aproveitou uma visitas de Delei à linha lateral do gramado e o mandou tocar a bola, acalmar a galera. Só depois do apito final, finalmente, sorriu. Conferiu a festa da rapaziada e da torcida, e se mandou pro vestiário, onde elogiou sua patota. E descarregou. Disse que o mais marcante fora a resposta que dera aos críticos que ajudaram a lhe derrubar da Seleção Brasileira, embora garantindo não ser revanchismo – estava passando o cargo para Edu Coimbra, contra quem decidira o Brasileiro. Parreira preferia falar de solidariedade, segundo ele, o maior mérito do Flu na finalíssima, que tivera o Vasco melhor, veloz e criando chances de gol, no primeiro tempo. E a ajuda de Iemanjá? Parreira viu o rival cansando, na etapa final, permitindo ao seu time dominar o jogo, de um 0 x 0 justo, do seu ponto de vista. Enfim, Parreira campeão.

sábado, 18 de dezembro de 2010

AS BODAS DE OURO DO DIABO

       AMÉRICA FAZ, HOJE, 50 ANOS QUE NÃO CONQUISTA O CAMPEONATO CARIOCA
Maracanã, domingo, tarde de 18 de dezembro de 1960. Naquel data, o América conquistva o seu últmo título de campeão carioca. Exatamente, há 50 anos. E tinha tudo para perdê-lo, pois o adversário, o Fluminense, quando mexeu no placar, no segundo tempo, deixou-lhe, pra empatar e virar, aqule tensa meia-horiunha de jogo, quando o relógio parece andar mais depressa, conspirar com a turma do contra.
Fazia 25 anos que o ‘Mequinha”, considerado o segundo time de todos os torcedoers criocas, não era campeão. Ainda bem que aquelas ‘bodas de prata’ não passaram em branco. Pra terminar em festa, o jovem treinador Jorege Vieria, de 25 anos, estabeleceu um compromisso com a sua galera: nada de perder pontos para a ralé. Afinal, tinha montado um time dotado de um conjunto que, se não jogava por música, tinha na coletividade a sua grande força. “E vamo que vamo!”
Pra começo de conversa, o América (foto) não fazia parte do rol de candidatos ao título. Os “grandes” o esperavam vivo, no máximo, até dois metros da praia. E olhe lá! Mas, ledo engano, diriam os pós-modernos da época. No entanto, daquela vez, o Diabo Rubro saiu pra aprontar. No primeiro turno, estreou vencendo o Vasco (1x 0). Depois, empatou com o Flu (1 x 1), o Botafogo (2 x 2) e derrubou o Fla (2 x 1). Só perdeu do Bangu (1 x 0), que não sabia se era pequeno ou médio. Mas, do restante daquela patota, não teve perdão: 3 x 1 Bonsucesso; 2 x 1 São Cristóvão; 2 x 0 Portuguesa; 3 x 0 Canto do Rio e 1 x 0 Madureira.
Os quatro milhões de habitantes do Rio “sessentão”, vivendo seus últimos dias de capital brasileira, estavam chocados com a ousadia do Diabo. Chocante mesmo! Principalmente, porque o América mantivera, no returno, a receita do Jorge, para o turno: espalhou brasa pra cima dos “completa tabela” – 2 x 0 Portuguesa; 4 x 1 Olaria; 1 x 0 Bangu; 2 x 0 São Cristóvão; 2 x 0 Canto do Rio; 2 x 1 Madueira e 2 x 1 Bonsucesso. De quebra, empatou com Vasco (0 x 0), Flamengo (1 x 1) e Botafogo (3 x 3), e temperou o caldo do Diabo, com 2 x 1, na rodada final, sobre o Fluminense. Pois é! Daquela vez, o “Mequinha” não fez bodas de prata. Mas, hoje, comemora bodas de ouro – sem título.
O JOGO DA TAÇA - O América, modernamente, seria “o sem estrelas”. Antigamente, um “time de “ninguém”. Beleza, ótimo para o Fluminense. Os tricolores avisaram, logo: “Ninguém tasca! Vou passar a temporada toda na liderança!”. E passou. Só esqueceu de combinar, com o Diabo, na última rodada do Campeonato Carioca de 1960.
Quando “Sua Senhoria, o juiz”, Wilson Lopes de Souza, mandou a bola rolar, o ‘Mequinha’ sacou o lance, rápido: como empate daria o bi ao Flu, este ficava na dele, convidando o Diabo a morder. Que viesse a turma do “inferno rubro”, pois a defesa “pó-de-arroz” era fera. E não teve mesmo pra rapaziada do Jorge Vieira. Primeiro tempo rolando no 0 x 0, bom demais pra o pessoal das Laranjeiras. E melhorou, ainda mais, aos 26 minutos, quando Telê encobriu o goleiro Ari. A “gorduchinha” ia seguindo, para o ângulo direito das traves americanas, quando, no meio do caminho, o zagueirão Wilson Santos deu-lhe uma mãozinha, para parar por ali. Pênalti! Mas que diabos! O Diabo aprontara na área errada.Pinheiro chuta, Ari defende, mas a bola voltando aos pés do zagueiro tricolor (foto) vai morrer no fundo da rede: Flu 1 x 0 e jogando bem. Fim de papo com o Diabo? Que nada! Os tricolores desandaram, quando o “ladrão de boals” Paulinho saiu de campo, machucado, deixando sua vaga para Jair Santana. Esperto, Jorge Vieria tirou Antoninho e mandou Fontoura pro jogo, ao ver o concorrente perdendo o meio-de-campo e com o ataque sem municiamento. Passou a pressionar.
O Fluminense até que começou o segundo tempo ainda campeão. Aos quatro minutos, levou um susto. Fontoura serviu Ivan, que jogou bola na área tricolor. Nilo acreditou no lance, chegou primeiro e empatou: 1 x 1. (foto). O Flu ainda era campeão. Aliás, bi. Era só se segurar, o que fez, quando o América jogava melhor. O Diabo gostou daquela brincadeira e tocou fogo na final. O cronômetro de Wilson Lopes de Sousa marcava 12 minutos para o Flu ser bi, qundo “Sua Senhoria” viu uma falta contra Castilho. De fora da área, forte e com efeito, Nilo bateu. O goleirão pegou e largou. Presente no pé drieito do lateral Jorge, que não perdoou: 2 x 1. (foto abaixo). O “Diabo” mandou o “Pó-de-Arroz” pro inferno. Há 50 anos – já não fazem mais infernos, como antigamente.
FICHA TÉCNICA

América 2 x 1 Fluminense. Estádio: Maracanã. Árbitro: Wuilsn Lopes de Souza. Gols: Pinheiro, aos 26 min do 1º tempo; Nilo, aos 4, e Jorge, aos 33 min do 2º tempo. Renda: Cr$ 3. 976.606,00. Púlico: 98.099 pagantes. América: Ari; Jorge, Djalma Dias, Wilson Santos e Ivan; Amaro e João Carlos; Calazans. Antoninho (Fontoura), Quarentinha e Nilo. Técnico: Jorge Vieira. Fluminense: Castilho; Jair Marinho, Pinheiro, Clóvis e Altair; Edmilson e Paulinho (Jair Francisco); Maurinho, Telê Santana, Valdo e Escurinho. Técnico: Zezé Moreira.

domingo, 12 de setembro de 2010

DELEI APOSTA QUE BRASIL AMASSA A LARANJA

São vários, no Brasil, os atletas de futebol que chegaram às câmaras municipais e estaduais. No entanto, só um conseguiu se eleger deputado federal: Wanderley Alves de Oliveira, o Delei, que foi meio-campista de Fluminense, Palmeiras e Botafogo e do português Belenenses, além de ter chegado à Seleção Brasileira. Portanto, com currículo suficiente para apostar que o time do técnico Dunga irá às semifinais da XIX Copa do Mundo, com 2 x 0, hoje, sobre a Holanda.
Nascido em Volta Redonda, a 51 temporadas (28.08.1959), como meio-de-campo, Delei era obrigado a se deslocar muito pelo gramado. E assim segue na vida parlamentar, já tendo passado pelo PSDB, de 1992 a 2002. Naquele ano, trocou de camisa e defendeu o PV, até 2005, quando teve seu “passe comprado” pelo PSC”, onde ainda “está escalado”. Pelos clubes que atuou, Delei não envergou a braçadeira de capitão. Mas, no PV, chegou a ser vice-líder, na Câmara dos Deputados, entre 2004/2005.
Como torcedor, Delei vê a Seleção Brasileira jogando um futebol pragmático, “como o Dunga gosta”, sem ter passado, ainda, por um grande teste nesta Copa do Mundo, ou seja, as vitórias sobre Coréia do Norte (2 x 1), Costa do Marfim (3 x 1) e Chile (3 x 0), além do empate, com Portugal (0 x 0). Por entender que “futebol é um grande investimento”, ele defende que “tem de haver espetáculo” e joga no lixo a tese de que, pra ganhar, não se pode jogar bonito. “Já que está vencendo, vamos ver até onde vai assim”, espana, “matando no peito, descendo no terreno” e lançando que a “chave brasileira rumo à final, é mais confortável do que a outra”
Do jogo contra os norte-coreanos, Delei viu a seleção brasileira “jogando pro gasto”, embora dê um desconto ao fato de ter sido a estréia, quando o time pareceu-lhe, “talvez, um pouco ansioso”. Também, levou em conta que os adversários dos canarinhos sempre se fecham muito, como fizeram os norte-coreanos, levando para o futebol a ideologia do seu governo. “A Seleção tinha (naquele dia), dois cabeças-de-área (Gilberto Silva e Felipe Melo) que davam poucas opções, mobilidade, velocidade e qualidade às saídas de bola”, comenta.
Com todos os brasileiros, Delei sentiu o time de Dunga mais eficiente diante da Costa do Marfim, lembrando que “a seleção, histórica e dificilmente, não perde chance de gols criadas”. Não negou, porém, decepção com o futebol africano deste Mundial, “por ter aderido à escola européia, quando tinha tudo para ser mais leve e veloz”, critica, com o espírito de que já recebeu criticas, também.
Sem Kaká, que havia sido expulso de campo diante dos marfineses, Delei notou a seleção sentindo muito a falta do seu camisa 10, na partida contra os portugueses. “O Kaká, junto com o Robinho, são os jogadores de maior qualidade técnica na equipe. Quando o Kaká não joga, as coisas, realmente, ficam muito complicadas”, afirma. Já no que diz respeito à fácil vitória sobre os chilenos, ele viu o adversário oferecendo mais espaços para os brasileiros trabalharem. Mas com uma ressalva: “Até o primeiro gol, o jogo era, mais ou menos, parelho. Depois daquilo, as coisas ficaram mais facilitadas”, bate, de primeira o ex-atleta que já foi capa da revista Placar (foto).
PLENAS -Delei não vê mais de dois ou três jogadores holandeses, destacando Robben, como acima da média. Por isso, coloca o escrete nacional com “plenas condições” de amassar a “Laranja”, pois crê que a taça deve parar mesmo é nas prateleiras de Brasil, Argentina ou Espanha. Ele não bota fé em ninguém mais, por não ter visto nada que lhe encantasse nesta Copa. Alias, desde a de 1990. “Eu já nem crio mais expectativas nessas oportunidades, pois, de lá pára cá, se houve uns oito grande jogos, não passou disso”, contabiliza.
Embora tenha tido uma experiência como treinador do Fluminense, em 1994, Delei não quis seguir na carreira de treinador. Como tinha sido cartola (gerente de futebol) do Volta Redonda, entre 1993/94, aceitou um convite para dirigir a Secretaria de Esporte e Lazer de sua cidade, entre 1997 e 2002. Dali, armou seu esquema, invadiu a área política e saiu pro abraço da galera (40 mil votos), pra botar no placar do Congresso Nacional o seu voto logo no dia da sua posse, quando se elegia o presidente da Casa, coincidentemente, numa tarde de domingo de Maracanã lotado, quando o seu Flu enfrentava o Vasco da Gama, em 1º de fevereiro de 2003.
Se fosse o treinador desta Seleção Brasileira, Delei tentaria dar mais leveza ao meio-de-campo, inserindo nele o meia Alex (ex-Palmeiras e Cruzeiro), hoje, jogando no futebol turco, e poderia abrir espaço ao veterano (34 anos) lateral-esquerdo Roberto Carlos, “pelo que ele mostrou no Corinthians”. No mais, vê a equipe bem segura, pelas mãos de Júlio César, no gol. Elogia a raça de Lúcio e a sobriedade de Juan, na zaga, a explosão de Maicon, pela lateral-direita, e o talento de Robinho, na ofensiva. Kaká ele ainda o vê fora de suas melhores condições físicas. Embora não tivesse explicitado, sua seleção, ainda, teria “algumas opções no banco dos reservas.
Reeleito, com 73 mil votos, em 2007, o deputado Delei Oliveira é a favor da Copa-20014 no Brasil, “pela oportunidade de se fortalecer a imagem do País e o turismo, evidentemente, com o devido cuidado com os gastos públicos”, acentua.
CANARINHO - Delei só jogou uma partida pela Seleção Brasileira principal. Convocado pelo treinador Edu Coimbra (ex centroavante do América, Vasco e Flamengo), foi em 21 de junho de 1984, para o amistoso que terminou 1 x 0, contra o Uruguai, no Estádio Couto Pereira, em Curitiba, diante de 41.111 almas e com gol de Arthurzinho. A torcida já vaiava, quando ele lançou Edson, que cruzou para Arthurzinho fazê-la mudar de idéia, aos 20 minutos do segundo tempo.
A foto do time que entrou em campo contra a Celeste está estampada na parede do gabinete 432 do anexo-4 da Câmara, e a rapaziada que rolou a bola foi: João Marcos; Edson Boaro, Oscar (capitão), Mozer e Vladimir; Jandir, Delei e Arturzinho; Tita (Assis), Reinaldo e Marquinho (Tato). Depois, Delei jogou sete vezes pela seleção olímpica, em 1979: 1 x 2 Romênia (30.10); 5 x 1 Emirados Árabes (04.11); 2 x 1 Emirados Árabes (07.11); 2 x 0 Bahrein (09.11); 3 x 1 Qatar (10.11); 3 x 1 Qatar (12.11) e 0 x 0 Kuwait (14.11). “Muitos atletas da minha época teriam vaga neste time (de Dunga)”, garante o deputado e ex-jogador da Seleção Brasileira.


Publicado pelo Jornal de Brasília de 2 de julho de 2010

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O CAPITÃO QUE LIBERTAVA JORNALISTAS

 JOSÉ BONETTI INTEGROU A SELEÇÃO BRASILEIRA DO TRI


O povo brasileiro estava com os ouvidos colado no rádio, no dia 29 de junho de 1958, dia da final da Copa do Mundo, na Suécia. Perto de onde fica o Hotel Nacional de Brasília, havia uma construção de madeira que alojava uma das unidades da Polícia do Exército, que dava segurança ao presidente Juscelino Kubitscheck. Pouco antes de o jogo começar, o JK pediu a José Bonetti, um dos coordenadores de sua segurança, para conseguir um rádio, pois, também, queria acompanhar a partida. Como ainda não havia palácios construídos na futura capital do país, no quartel improvisado mesmo, o presidente ouviu um tempo da decisão, vibrando com a narração do locutor Oduvaldo Cozzi.
 Naquele dia, nasceria uma relação de respeito mútuo entre JK e Bonetti, o que não seria interrompido nem nos mais duros períodos da ditadura militar (1964/1985), quando Juscelino fora chamado, pelo 1º Exército, a depor, no Rio de Janeiro. Sozinho, ao lado do advogado Sobral Pinto, JK aguardava a hora de falar aos militares. Ninguém se aproximava ou lhe dava confiança. Ele era considerado um inimigo do regime imposto pelos generais que apoiara, em um primeiro momento da Revoluçaõ de 31 de Março.
 Entre os jornalistas, a expectativa era a de que JK fosse maltratado, humilhado durante o interrogatório. Chegando ao quartel, de uma missão, Bonetti viu JK, e não teve dúvidas. Desafiou todos os olhares e recomendações e foi cumprimentá-lo. Naquele momento, colocava a sua cabeça a prêmio. Como castigo, fora incumbido de dar segurança ao governador eleito do Rio de Janeiro, Negão de Lima, que vivia o difícil período do “toma-não toma-posse”, até que o Exército se decidisse.
  Afinal, quem era aquele José Bonetti? Simplesmente, um 1º tenente. Além daquilo, só podia contar da sua amizade com o presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), João Havelange, que o colocara para coordenar 23 modalidades desportivas amadoras, por ter ligações com o vôlei e o basquete, no qual foram campeão carioca feminino, em 1964, treinando o time do Flamengo.
  Em 1969, quando já tinha cursado a Escola de Educação Física do Exército, Bonetti recebeu o convite de Antônio do Passos, diretor da CBD, para integrar a comissão técnica da Seleção Brasileira que disputaria as Eliminatórias da Copa do Mundo de 1970, no México. Para a imprensa, a comissão, repleta de militares, só teria uma missão: vigiar o técnico comunista João Saldanha. E, junto com os também capitães Cláudio Coutinho e Raul Carlesso, o antigo treinador José Bonetti entrou nessa e ficou amigo dos repórteres que cobriam o time canarinho, para a sorte de muitos deles, caso da localização e libertação do jornalista Marcos de Castro, do Jornal do Brasil.
  Marcos era muito religioso e não se envolvia em nada mais que não fosse o jornalismo. No entanto, quando a guerrilha urbana sequestrou o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Buck Elbrik, em 1969, ele, que nada tinha nada a ver com o caso, desapareceu. Sua família, apavorada, passou a pressionar o jornal para descobrir o que acontecera. Como nada se descobria, os repórteres Dácio de Almeida e Oldemário Touguinhó, lembraram-se do capitão Bonetti. "Eu já havia perdido muitos companheiros na guerrilha urbana e sabia o quanto aquilo doía na família. Como havia servido na Polícia do Exército e tinha bons contatos por lá, e também na polícia civil, orientei seu pessoal sobre os passos a seguir, pois não podia aparecer de peito aberto. Depois de muitos contatos, descobri que o Marcos de Castro estava preso no Batalhão de Carros de Combate, na Avenida Brasil (no Rio de Janeiro). Por meio de demarches realizadas pelo capitão Calomino, conseguimos tirá-lo de lá", conta Bonetti.
 A acusação que pesava contra Marcos de Castro era ter sudi: avalista no aluguel de um “aparelho” (nome que a repressão davam aos locais onde os "subversivos" conspiravam), para o futuro deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ). "Na verdade – prossegue Bonetti – o Marços, meramente, atendera ao pedido de um colega jornalista, para avalizá-lo, como já o fizera para dezenas de outros companheiros de profissão. O que pegou foi o fato de o Gabeira ter sido incluído na lista dos presos políticos trocados pela liberdade do embaixador norte-americano".
Bonetti evita falar muito sobre os "anos de chumbo", mas conta ter dado,também, uma “ajudinha” para o hoje membro da Academia Brasileira de Letras, Carlos Heitor Cony, na época, escrevendo na revista Manchete: "Como ele estava preso em uma unidade na qual eu servia, eu não o deixava ficar em situações que o levassem à depressão. Conversávamos muito e ficamos amigos, ao ponto de ele, depois, me oferecer todos os seus livros. Terminei seu fã, lendo-o, diariamente, depois que foi libertado".
 Bonetti revela mais um caso de ajuda sua ao pessoal da imprensa: o do desaparecimento do pai do jornalista Oldemário Touguinhó, do Jornal do Brasil, também no Rio. Disse que o encontrou em uma geladeira, do Instituto Médico Legal, após 40 dias de procura. Conseguiu esclarecer que o homem tivera um infarto, caminhando pelas ruas cariocas, e fora recolhido como indigente, por não ter nenhuma ligação com política. Hoje, José Bonetti, aposentado, vive em Brasília.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

FUTEBOL E ESTADO

UMA RELAÇÃO MUITO ANTIGA

No dia 17 de junho de 1970, dois fatos entravam para a história do Brasil, há 40 anos: a vaga da Seleção Brasileira na final da Copa do Mundo de 1970, no México, com 3 x 1, sobre o Uruguai, vingando o "Maracanazo" de 1950, e a humilhação, iposta por guerrilheiros urbanos, ao regime militar do general Garrastazu Médici, que era obrigado a trocar 40 "subversivos" presos, pela liberdade do embaixador alemão Ehrenfried Anton Theodor Ludwig Von Holleben, de 61 anos.
A dobradinha Estado-futebol, no Brasil, vem desde 1930, quando o presidente Getúlio Vargas (foto), como fazia Benito Mussolini, na Itália, viu na modalidade um bom meio de transformação de um povo e de consolidação do seu regime de matizes fascistas. Quando tentou estatizar o esporte, para transformá-lo em veículo de aspiração nacional, Getúlio, sem querer, apressou a profissionalização dos futebolistas brasileiros.
 Em 1934, o governo Getúlio Vargas emplacou Lourival Fontes, o homem forte da propaganda do regime, na chefia da delegação brasileira na Copa do Mundo, na França, após calar a imprensa, sobre as críticas ao boicote dos jogadores profissionais à Seleção. Antes em 33, Getúlio determinara que o futebol no país seria amador e o atleta um trabalhador. Assim, de 1934 a 39, se tivesse medidas para anunciar aos trabalhadores, seria em estádio de futebol, para mexer com as massas. Pra coroar seu projeto, que passava pela miscigenação social, "escalou"sua filha, Alzira, como madrinha da seleção que iria à Copa de 38. Veio um terceiro lugar e a consideração do sociólogo Gilberto Freire, de que o futebol brasileiro era uma expressão de democracia racial.
Getúlio caiu , na década 50, e a relação Estado-futebol só voltou a ser turbinada depois que João Goulart, o Jango (foto, segurando a taça), achou que o seu governo populistas tivesse apoio popular e penetração nos meios sindicais. Rolou a bola para o general Medici tirar mais proveito da situação do que Getúlio. Bom de bola como atacante do time juvenil do Bagé, na juventude, Médici era apaixonado e sabia tudo de futebol. Inclusive, tirar partido político dele, a partir da sua obsessão de desenvolver um mandato mais popular do que o “governo provisório” de 15 anos de Getúlio Vargas. Se bem que a patota dele tmbém fizera o mesmo, com os cinco atos institucionais que lhe deram poderes divinos.
Veio, então, a Copa-709 e a seleção brasileira estava totalmente militarizada, até no corte de cabelo. O chefe da delegação era o brigadeiro Jerônimo Bastos e a comissão técnica incluía os capitães Cláudio Coutinho e Raul Carlesso, além do supervisor o major José Bonetti. Sem falar que usou a Escola de Educação Física do Exército, Rio, para vários trabalhos. Médici estava no auge do seu poder, convivendo com crescimento no emprego e na expansão demográfica, mesmo com um estratorférico crscimeto da dadívida extrna, propulsionad pel corrupção militar. E aconteceu o 17 de junho. O embixdor alemão Von Holleben, sequestrado seis dias antes, por "subversivos" armados, fora trocado por “terroristas que desasgragavam o país, num momento em que ele era a pátria de chuteira em torno da Seleção". Médici telefonou a cada um dos jogadores, após os 3 x 1 sobre o Uruguai, e os militares distribuirm nota oficial à imprensa, dizendo que "o ato terrorista no Brasil fora condenado pelos jogdores da Seleção". Ganhar a Copa, era fundmental, para Médici (foto/D)consolidar o seu projeto de poupularidade total.
O Brasil toruxe a taça e o general seria imabativel, se houvesse eleição, segundo o então lider sindical Luis Inácio Lula d Silva, lembrando que havia muito emprego sobrando. Como jogador de futebol era alienado, políticamente, como a maiora da pouplação brasileira, o futebol era um bom meio para o regime encobrir as tortura e prisões do regime. Tri e bola fora.

O DUELO BRASIL X HOLANDA

UMA DISPUTA MUITO EQUILIBRADA

O contato entre brasileiros e holandeses é pequeno na bola. E tinha tudo para ser bem maior, afinal foi grande contribuição que eles deram à nossa formação como nação, ainda que tenha sido pela força de suas armas, durante uma dominação que durou de 1630 a 1654, numa parte que ia de Pernambuco ao Maranhão. Informados sobre a vulnerabilidade militar da colônia portuguesa, a Holanda, detentora de poderosa indústria naval, decidiu chegar. E chegou, deixando boas marcas, principalmente, após o conde João Maurício de Nassau trazer profissionais que impulsionaram a vida do "Brasil holandês" na economia, arquitetura, engenharia, letras e artes, durante sua administração, de 1637 e 1644.
No futebol, levou-se 309 anos, depois que os portugueses expulsaram os holandeses, para os brasileiros o desafiarem na pelota. Nos arquivos da Confederação Brasileira de Futebol consta que o primeiro duelo se deu, amistosamente, em 02.05.1963, no Estádio Olímpico de Amsterdã, e que os anfitriões fizeram 1 x 0, com Petersen marcando o gol, aos 44 minutos do segundo tempo. Só que não foi bem assim, segundo Geraldo Romualdo da Silva, um dos maiores historiadores do futebol brasileiro.
Contava o jornalista que a Seleção Brasileira, na realidade, participara de um “faz de conta que é um jogo”, contra o time da Phillips, que distribuíra aos visitantes radinhos de pilha, barbeadores e outros produtos que a empresa fabricava. Segundo ele, foram dois tempos, de 20 minutos, e, de tão irresponsáveis que estiveram os canarinhos naquele dia, aos 44 da fase final, a zaga da “Seleção Transistor” (apelido ganho depois do encontro), ficara brincando de driblar os gringos dentro da área, até perder a bola para Petersen fazer o gol.
Enfim, Brasil e Holanda se pegaram na bola por 10 vezes, em seis amistosos e quatro por Mundiais, com três vitórias nossas, três deles e quatro empates: 15 gols pra gente e 15 pra eles. Depois, da primeira "brincadeira", levamos 26 anos (20.12.1989) para vencê-los, demora que Portugal não teve, quando rechaçou a tentativa inicial de invasão holandesa à Bahia, em 1625, o que não foi grandes coisas, pois eles vieram com 1.700 homens. Mas a primeira vitória brasileira sobre a Holanda no futebol, também, não é lá grande feito. Comemorava-se os 100 anos da Federação Holandesa de Futebol e a seleção deles estava sem os craques Van Basten, Gullit e Rijkiaard. Com gol de Careca, 1 x 0, amistoso, em Roterdã. Nos outros amistosos, três 2 x 2: em 31.08.1966, em Amsterdã; em 05.05.1999, em Salvador, e em 08.10.1999, em Amsterdã.
COPAS DO MUNDO – Em 03.07.1974, no Westfalenstadion, diante de 52.500 almas, a Laranja Mecânica, de Cruijff e Neeskens, os atores dos gols embarcou no “carrossel” do técnico Rinus Michel e mandou incontestáveis 2 x 0, pelo primeiro Mundial promovido pela Alemanha – o segundo foi em 2006.
A resposta brasileira foi na Copa dos Estados Unidos-1994, com 3 x 2, em 09.07, no Estádio Cotton Bowl, em Dallas. Perante 63. 500 presentes, o time do técnico Carlos Alberto Parreira avançou às semifinais, criando o “gol embala neném”, com o qual Bebeto homenageou o nascimento do filho Mateus.
O penúltimo encontro de brasileiros com holandeses, por Mundiais, em 07.07.1997, no Velódrome, de Marselha, na França, terminou 1 x 1, no tempo normal, diante de 54 mil assistentes. A decisão foi para os pênaltis, e o goleiro Taffaarel defendeu dois, classificando o Brasil: 4 x 2, para decidir a Copa-98, com a França. O último marcou o final da segunda "Era Dunga" na Seleção Brasileira – a primeira fora na Copa-90, quando ele era jogador –, após 59 jogos, 41 vitórias, 12 empates e 5 derrotas, que resultaram nos títulos da Copa América-2007; da Copa das Confederações-2009; o pirmeiro lugar nas Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa de 2010 e a sexta colocação no Mundial da África do Sul.
No jogo deste Mundial africano, a Holanda mandou a Seleção Brasileira de volta pra casa (foto), por 2 x 1, em 2 de julho de 2010, no Estádio Nelson Mandela Bay, em Porto Elizabeth, com arbitragem do japonês Yuichi Nishimura e público de 40.186 almas. Robinho abriu o placar, aos 10 minutos do primeiro tempo. Aos 8 da etapa final, o goleiro Julio Cesar e o apoiador Felipe Melo se enrolaram numa bola, no gol de empate dos holandeses, com a pelota tocando, por último, no segundo. Depois, a FIFA atribuiu o gol a Sneijder, o autor do chute e, também, da cabeça da virada do placar, aos 22 da etapa final,quando. Felipe Melo foi expulso de campo, por chutar Robben, quando este estava caído.
Dirigida pelo treinador Bert van Marwijk, a seleção da Holanda venceu por causa de Stekelenburg; Van der Wiel, Heitinga, Ooijer e Van Bronckhorst; Van Bommel, De Jong, Sneijder e Kuyt; Van Persie (Huntelaar) e Robben. O time do técnico Dunga foi: Julio Cesar; Maicon, Lúcio, Juan e Michel Bastos (Gilberto); Gilberto SIlva, Felipe Melo, Daniel Alves e Kaká; Robinho e Luís Fabiano (Nilmar).

O DUELO BRASIL X CHILE

CHILENOS SÃO FREGUESES DE CADERNO

Iniciado em 8 de julho de 1916, pelo então Campeonato Sul-Americano, que passou a ser chamado de Copa América, desde 1987, o duelo entre brasileiros e chilenos apresenta vantagem massacrante dos canarinhos sobre “Los Rojos”: 47 vitória, em 66 jogos, contra sete do adversário e 12 empates.
Além da Copa América, quando jogaram 21 vezes, brasileiros e chilenos se encontraram, ainda, em duas ocasiões, pelos Jogos Pan-Americanos; outras duas pela Taça Amizade; em 10 edições da Taça Bernardo O´Higgins; mais 10 valendo vaga nas Eliminatórias da Copa do Mundo; em três Mundiais e, ainda, por 18 amistosos. O saldo dos confrontos registra 155 bolas nas redes chilenas, contra 55 nas "brasucas", o que dá ao time canarinho o saldo de 100 tentos. Como se lê, o Chile é um autêntico “freguês de caderno”.
 No primeiro duelo entre os dois países, em 13 de junho de 1962, no Estádio Nacional de Santiago, valeu vaga na final da Copa do Mundo que os chilenos promoviam. Até pisar no gramado, o time do treinador Aymoré Moreira viveu uma verdadeira aventura. Hospedada em em Qilpué, na pousada El Retiro, perto de Viña del Mar, a delegação brasileira entrou numa paranóia de achar que o cozinheiro chileno que os servia sabotaria o almoço, para a Seleção passar mal durante o jogo contra os anfitriões. Viajou de trem, para Santiago, com os jogadores comendo só sanduíche, enquanto o dentista Mário Trigo os enrolava, contando muitas piadas.
Veio o jogo e o Brasil não deu chance de sonhar aos chilenos. Mandou indiscutíveis 4 x 2, com dois gols de Garrincha (foto), aos 9 e aos 32 minutos do primeiro tempo, e de Vavá, aos 2 e aos 33 da etapa final – Toro, aos 42 da primeira fase, e Leonel Sanchez, cobrando pênalti, a 28 minutos do apito final, descontaram para os donos da casa. A expectativa dos chilenos por vaga na decisão era tanta que, ao meio-dia, não havia mais como achar um jeito regular de entrar no estádio. Mesmo assim, os torcedores conseguiram tornar o público em quase nove mil almas acima da capacidade da casa, de 65 mil pagantes, que proporcionaram a maior renda da Copa-62: US$ 309 mil e132 dólares.
Daquele duelo, ficou uma das mais contadas histórias do futebol brasileiro. Expulso de campo, a sete minutos do encerramento, Garrincha era problema para a final, contra a então Tchecoeslováquia. Então, os cartolas da Confederação Brasileira de Desportos agiram rápido e sumiram com o “bandeirinha” uruguaio Esteban Marino, que dedurara Mané, ao árbitro peruano Arturo Yamazaki. Como este não vira e nem anotara nada na súmula, o “pontapezinho de amizade” que Garrincha dera, com qualificara, no bumbum de Eládio Rojas, foi desconsiderado, por falta de provas, pois não se encontrou Esteban Marino para depor no julgamento do ponta-direita brasileiro, que terminou sendo, apenas, advertido.
O Brasil venceu com: Gilmar; Djalma Santos, Mauro, Zózimo e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Pelé e Zagallo. O Chile foi: Escuti; Eyzaguirre, Raul Sanchez e Rodrigues; Contreras e Rojas: Ramirez, Toro, Landa, Tobar e Leonel Sanchez.
GOLEADA NA COPA DA FRANÇA – A Seleção Brasileira vinha de derrota, por 2 x 1, para a Noruega, mas já estava nas oitavas de final, vencendo Escócia (2 x 1) e Marrocos (3 x 0). O jogo contra o Chile seria em 27 de junho de 1998, no Parc des Princes, em Paris, e os 48.500 pagantes estavam de olho em Ronaldo Fenômeno, o melhor jogador do mundo, que havia marcado o seu primeiro gol em Mundiais no dia 16, no Le Beaujoire, em Nantes, assisitido por 33.266 fãs do seu futebol.
Para aquele jogo, apitado pelo francês Marc Batta, o Chile levava uma dupla atacante terrível, Salas e Zamorano. Mas foi o Fenômeno quem “matou”. Sofreu um pênalti, cometido por Tapia, que ele cobrou e converteu, aos 47 minutos do primeiro tempo, voltou à rede, aos 25 do segundo, e ainda mandou duas bolas nas traves na mesma etapa. Como César Sampaio, aos 11 e aos 27, da etapa inicial, havia marcado dois, a vaga já estava carimbada ao final da fase inicial – Marcelo Salas descontou para “Los Rojos”, aos 28 da fase final.
Tendo Zagallo por treinador, o Brasil escalou: Taffarel; Cafu, Júnior Baiano, Aldair (Gonçalves) e Roberto Carlos; Dunga, César Sampaio, Rivaldo e Leonardo: Bebeto (Denílson) e Ronaldo. O Chile, do técnico Nelson Acosta, foi: Tapia; Fuentes, Margas, Reyes e Ramírez (Estay); Aros, Cornejo, Acuña (Musrri) e Sierra (Veja); Zamorano e Salas.
BALAIADAS – A maior maldade que a Seleção Brasileira já fez com a chilena foi em 17 de setembro de 1959, no Maracanã. O jogo valia pela Taça O´Higgins e os canarinhos fizeram 7 x 0. Isso, sem o contundido Garrincha e o magistral Didi, defendendo o espanhol Real Madrid. Mas Pelé estava inspirado e pipocou o barbante três vezes. Dorval, Quarentinha (2) e Dino Sani completaram o serviço.
A primeira goleada brasileira foi em 11 de maio de 1919, quando a Copa América era Sul-Americano: 6 x 0. Em 7 de setembro de 2007 houve um 6 x 1, pela mesma disputa. Em 22 de março de 1970, rolou 5 x 0, amistosos e repetidos em 4 de setembro de 2005, pelas Eliminatórias da Copa. E, em 29 de junho de 1960, os 4 x 0 de um outro amistoso.
A primeira vez que o Chile endureceu um jogo contra o Brasil foi em 17 de novembro de 1922, no 1 x 1 válido pelo então Sul-Americano. A primeira vitória saiu em 24 de janeiro de 1956, também pelo torneio continental, e, enfim, deu uma goleada, em 3 de julho de 1987, pela Copa América, já com este nome. No último duelo, em 28 de junho de 2010, no estádio Ellis Park, em Joanesburgo, pelo Mundial da África do Sul, o Brasil mandou 3 x 0, com gols de Juan, aos 34, e Luís Fabiano, aos 37 minutos do primeiro tempo, e de Robinho, aos 14 da etapa final (foto). O time foi: Julio Cesar; Maicon, Lúcio, Juan e Michel Bastos; Gilberto SIlva, Ramires, Daniel Alves e Kaká (Kleberson); Robinho (Gilberto) e Luis Fabiano (Nilmar). Os chilenos, treinados pelo técnico argentino Marcelo Bielsa, contaram com: Bravo; Isla (Millar), Contreras (Rodrigo Tello), Jara e Fuentes; Carmona, Vidal e Beausejour; Sánchez, Suazo e Mark González (Valdivia). O inglês Árbitro: Howard Webb foi o árbitro.

A SOMBRA DO REI

 AS AVENTURAS DE AMARILDO NO TIME DE PELÉ
Amarildo foi um dos heróis do do bi, no Chile, em 1962, com dois gols decisivos, na virada sobre a Espanha, na primeira fase, e igualando o placar, dois minutos depois de os tchecos tê-lo aberto, na final. O torcedor não esquecia do desempenho daquele garoto, de 23 nos que tivera a responsabilidade de substituir o contundido “Rei Pelé", e o fizera, com muita raça, sangue frio e categoria. Portanto, convocá-lo para a Copa -66 era uma obrigação da Confederação Brasileira de Desportos (CBD).
Por aquele tempo, a Seleção só chamava quem jogasse no país. Assim foi que Orlando Peçanha de Carvalho, campeão na Suécia-1958, ficara de fora do Chile-62, porque estava defendendo o argentino Boca Juniors. Segundo Amarildo, ainda no calor da conquista do bi, o supervisor canarinho, Carlos Nascimento (foto/E, ao lado de Vicnte Feola), já lhe avisara, naquele mesmo 62, que ele seria o ponta-esquerda da equipe de 1966, caso estivesse no futebol brasileiro. Porém, ele não era ponteiro, mas ponta-de-lança, o que,  representava um atacante mais móvel do que o centroavante, com a missão de comparecer às redes, de residir dentro da área.
Como Zagallo e Pepe, os dois pontas-esquerdas de 58/62, já não foram mais convocados, Edu (Santos) de 17 anos, Paraná (São Paulo) e Rinaldo (Palmeiras) brigavam pela camisa 11. Amarildo dizia, abertamente, que não era ponta-esquerda e não gostava de sê-lo. Inclusive, na última temporada italiana (65/66) atuara só uma vez na função, pois o Milan, que o tirara do Botafogo, em 1963, enfrentara várias contusões dos pontas-de-lança e o fixara pelo meio do ataque. Por sinal, aquela fora a sua pior temporada entre os “rossoneros”, com a sua estrela de goleador brilhando pouco.
Na briga para trazer Amarildo para os treinos da seleção, enquanto a CBD fazia varias tentativas junto aos milaneses, a mãe do atleta fazia promessa à Nossa Senhora de Lurdes, para vê-lo canarinho, durante a Copa do Mundo. Na Itália, torcedores do Milan e a imprensa, contra a liberação, chamavam-no de mercenário, ao que o “Possesso” respondia prometendo doar a uma instituição de caridade tudo o que recebesse da CBD. O Milan (na foto, ao lado de Pelé), porém, terminou cedendo. Segundo contou o presidente da CBD, João Havelange, durante a missa comemorativa dos seus 50 anos, embora o governo brasileiro tivesse colocado os ministérios das Relações Exteriores e da Justiça à sua disposição, fora o presidente da república, o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, quem tomara a iniciativa de intervir diretamente no caso.
Bastante resfriado, Amarildo, que já tinha sotaque italiano, foi recebido, no Brasil, como um príncipe, visto como o “cara” para resolver a problemática questão da ponta-esquerda da Seleção. Mas estava três quilos abaixo do seu peso normal, de 65 quilos, precisando comer e repousar muito. Depois de passar por todos os exames médicos e dentários, o “Possesso” não esperava encontrar jogadores aborrecido com a sua chamada. Jurava que viera disputar a vaga em pé de igualdade com os concorrentes e dizia desconhecer o garoto Edu, além de Tostão e Nado, este uma surpresa na convocação, por ser um atleta do pernambucano Náutico, de região nunca antes lembrada pela Seleção. Repleto de “medalhas de guerra”, cicatrizes nas pernas, Amarildo trouxe – e recomendou à comissão técnica – duas chuteiras da marca “Atalasport”, uma com 11 travas, para campo duro e pesado, e uma de seis, bastante flexível. Como aviso, contou que o futebol europeu se destacava pela parte física, usava a retranca e o jogo bruto, e era perigoso nas ofensivas. A sua receita para anular o líbero era ter os pontas jogando abertos, conduzindo a bola até a linha de fundo.
Amarildo “reestreou” na Seleção Brasileira em 19 de maio, no Maracanã, atuando por 71 minutos, quando foi substituído por Paraná, no amistoso em que os canarinhos venceram os chilenos, por 1 x 0, com gol marcado por Gérson, aos 9 minutos do segundo tempo. Mesmo com “La Roja”, pouco ameaçando, naquele dia, o time de Vicente Feola jogou mal, formando com: Gilmar: Carlos Alberto Torres, Brito, Altair e Rildo; Denílson e Gérson; Garrincha, Servílio (Parada), Pelé (Silva) e Amarildo (Paraná). Um dia antes, quando uma seleção-B – Fábio; Murilo, Djalma Dias, Leônidas e Édson; Dudu (Roberto Dias) e Lima. Jairzinho, Tostão, Célio (Paulo Borges) e Ivair – vencera o País de Gales, no Mineirão, pelo mesmo 1 x 0, a comissão técnica havia cortado sete jogadores, deixando o clima bastante apreensivo na Seleção.
Depois daquilo, houve dois amistosos com o Peru e mais dois contra a Polônia, mas Amarildo só foi escalado quase um mês depois, em 12 de junho, em outro amistoso, diante da Tchecoeslováqui, quando atuou por 60 minutos, até ser substituído por Edu, na vitória brasileira, por 2 x 1, com dois gols de Pelé. Mas ele deveria ter enfrentado a Polônia, em 8 de junho, só não indo a campo devido a uma lesa no músculo adutor de uma das coxas. No entanto, em 15 de junho, nos 2 x 2 com os mesmos tchecos, no Maracanã, marcando a despedida da seleção do país, ele atuou a partida inteira, bem como em 25 de junho, em outro amistoso, contra a Escócia, 1 x 1, no Hampden Park, em Glasgow. Quatro dias antes, num amistoso contra o Atlético de Madrid, na capital espanhola, como Estádio Santiago Bernabeu lotado, havia marcado seu primeiro gol na volta à Seleção, nos 5 x 3 que tiveram, ainda, três de Pelé e outro de Lima.
Em 30 de junho, no .Estádio Nya Ullevi, em Gotemburgo, onde a seleção havia jogado em 1958 Amarildo já não pode participar dos, 3 x 2 sobre a Suécia, no último amistoso antes da estréia do Brasil Copa do Mundo de 1966. Dois dias antes, sofrera um rompimento de músculo na coxa direita, durante um treino em Atividaberg. Foi o seu fim de linha canarinho, após 22 jogos e sete gols marcados.
FAMA - O cidadão campista – nascido em Campos-RJ, em 26 de março de 19345 – Amarildo Tavares da Silveira, ficou famoso por ter substituído o “Rei Pelé”, na Copa do Mundo de 1962, no Chile, quando o “Camisa 10” saiu da disputa devido a um estiramento muscular. Amarildo jogou muito e fez os gols que o titular deveria fazer. Em seu primeiro jogo, já saiu consagrado do gramado do Estádio Sausalito, em Viña del Mar, por ter virado, para 2 x 1, o jogo em que os canarinhos pasavam vexame diante dos espanhois.
Aquela, no entanto, não fora a primeira vez em que “O Possesso” –, seu apelido, pela forma agressiva com que jogava – substituíra o “Rei”. Foa em 24 de abril do mesmo 1962, quando a Seleção Brasileira goleou os paraguaios, por 4 x 0, no Pacaembu, em São Paulo, pela Taça Osvaldo Cruz. Amarildo entrou na vaga “Dele”, aos 65 minutos (ou, aos 20 do segundo tempo), quando o “cara” já havia marcado dois gols, aos 21 e aos 35 minutos do primeiro tempo – Pepe, cobrando pênalti, aos 6 do primeiro, e Vavá, aos 6 do segundo tempo, completaram a balaiada. . O time foi: Gilmar; Djalma Santos, Bellini (cap), Jurandir e Altair; Zito (Zequinha) e Mengálvio (Benê); Garrincha, Pelé (Amarildo) Coutinho (Vavá) e Pepe (Zagallo). O técnico era Aimoré Moreira e o público de 45 mil pagantes.
Amarildo, também, fez parceria de ataque com Pelé. Substituindo Vavá e Coutinho, os dois centroavantes que foram ao Chile, ele e o “Rei” formaram dupla de área em nove de maio de 1962, no 1 x 0 sobre Portugal, amistoso, no Maracanã, diante de 130 mil, 874 pagantes, com gol de Pelé, aos 56 minutos (ou, aos 11 do segundo tempo). A equipe teve: Gilmar: Djalma Santos, Mauro, Zózimo e Altair; Zito (cap) (Zequinha) e Didi; Garrincha, Pelé, Amarildo e Pepe (Germano).
Convocado, por Aimoré Moreira, Amarildo estreou na Seleção Brasileira em 30 de abril de 1961, pela Taça Osvaldo Cruz, substituindo seu colega de ataque botafoguense Quarentinha, aos 46 minutos. O jogo foi no Estádio Puerto Sanjonia,em Assunção, e o Brasil venceu o Paraguai, por 2 x 0, com gols de Coutinho e Pepe, formando com: Gilmar; De Sordi, Bellini, Oreco (Calvet) e Nílton Santos; Zito (Amaro) e Didi; Garrincha, Coutinho, Quarentinha (Amarildo) e Pepe. Depois, “O Possesso” jogou em: 03.05.61, em Brasil 3 x 2 Paraguai, no mesmo local e pela mesma disputa; 11.05.61, em Brasil 1 x 0 Chile, no Estádio Nacional de Santiago, pela Taça O´Higgins; 24.04.62, no já citado em Brasil 4 x 0 Paraguai; em 06.05.62, nos 2 x 1 sobre Portugal, amistoso, no Pacaembu, e em 09.05.62, no 1 x 0 sobre Portugal, mencionado acima.
Depois da Copa do Mundo-62, Amarildo participou de mais oito jogos pela Seleção: em 13 de abril de 1963, no Morumbi, em São Paulo, pela Copa Roca, nos 3 x 2 sobre os argentinos; em 16 de abril (na foto, em pé,da esquerda para a  direita, Djalma Santos, Zito, Altair, Cláudio, Gilmar e Mauro; agachados, a partir da direita, Dorval, Mengálvio, Amarildo, Pelé e Pepe), no Maracanã, com 5 x 2 sobre o mesmo adversário, com 2 gols dele; em 21 de abril, na derrota, por 0 x 1 frente Portugal, no Estádio Nacional de Lisboa; em 24 de abril, na goleada sofrida ante a Bélgica, por 1 x 5, no Estádio Heysel, em Bruxelas; em 2 de maio, no 0 x 1 para a Holanda, no Estádio Olímpico, de Amsterdã; em 8 de maio, no 1 x 1, com a Inglaterra, em Wembley; em 17 de maio, no 01 x 0 sobre a República Árabe Unida, no Estádio Nasser, no Cairo/Egito, e em 19 de maio, nos 5 x 0 sobre Israel, no Ramat Gan, em Tel Aviv.
Amarildo totalizou 22 jogos e sete gols com a camisa da Seleção Brasileira. Além dos dois tentos contra a Espanha, os outros foram diante da Techecoeslováquia, na final da Copa-62, quando empatou a partida, dois minutos após os adversários terem aberto o placar; dois sobre os argentinos, em 16 de abril de 63, no Maracanã, pela Copa Roca; e em 19 de maio de 1963, nos 5 x 0 sobre Israel, em Telaviv, no Estádio Ramat Gan, e em 21 de junho de 1966, nos 5 x 3 sobre Atlético de Madrid, no Santiago Bernabeu, na capital espanhola.
Nos seus jogos mais gloriosos, contra a Espanha, em seis de junho, e diante da Tchecoeslováquia, em 17 de junho, ambos de 1962, a seleção Brasileira teve formação única: Gilmar:Djalma Santos, Mauro, Zózimo e Nilton Santos: Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Amarildo e Zagallo. Seu feito, no primeiro jogo, em Sausalito, foi visto por 18.715 pagantes, e no segundo, no Estádio Nacional de Santiago, por 68 mil e 69 pagantes.
Nem tudo, porém, foi glórias na carreira de Amarildo. No início de sua carreira, em 1958, no Flamengo, foi dispensado, após seis jogos e um gol. Mas em 1959 foi contratado pelo Botafogo, que defendeu até 1963 (foto, em pé, da esquerda para a direita, Paulistinha, Manga, Jadir, Nílton Santos, Aírton e Rildo; agachados, na mesma ordem, Garincha, Edson, Quaentinha, Amarildo e Zagallo), jogando 231 vezes e marcando 136 gols.
 Depois do gande Botafogo de Garrincha (foto, ao lado do Mané), Amarildo jogou pelo italiano Milan, de 1963 a 67, quando foi para a Fiorentina, e ficou, até 1971. D 71 a 72 esteve na Roma e, em 1973, voltou ao Brasil e defendeu o Vasco, pelo qul atuou até 1974. Em São Januário, seu time-base, treinado por Mário Travaglini, era: Andrada; Fidélis, Marcelo, Miguel e Alfinete; Alcir e Zanata; Jorginho Carvoeiro, Amarildo, Roberto Dinamite e Luís Carlos Lemos.
O último jogo de Amarildo pela Seleção, trinada pelo técnico Vicente Feola, foi em 25 de junho de 1966, no amistoso, contra a Escócia, 1 x 1, no Hampden Park, em Glasgow. O time foi: Gilmar: Fidélis, Bellini (cap), Orlando e Paulo Henrique; Zito (Lima) e Gérson; Jairzinho, Servílio (Silvaz), Pelé e Amarildo. Foram 25 jogos (/), vencendo 17, empatando três e perdendo cinco. Ao todo, balançou as redes nove vezes em 22 encontros contra seleções nacionais - 15 vitórias, 3 empates, 4 derrotas e 7 gols – e mais 3 jogos contra clubes ou combinados - 2 vitórias, 1 derrota e 2 gols. Seus títulos pela Seleção foram: Taças Oswaldo Cruz de 1961 e 1962; Taça Bernardo O'Higgins de 1961 e Copa do Mundo-1962.

O DURO DUNGA E O CORDIAL FEOLA

                           DIFERENÇAS ENTRE DOIS TREINADORES DE SELEÇÃO
Tudo o que aconteceu após a Copa-2010 – torcedores execrando treinador e atletas, devido a eliminação precoce da Seleção Brasileira (pela holandesa) – já houve. Exemplo. Depois do Mundial-1966, para revolta de sua mulher, Dona Joanina, a casa do técnico Vicente Feola, em São Paulo, precisou de proteção policial.  Afinal, treinadores de todo o mundo colocavam o Brasil entre os favoritos ao título, sem falar que astrólogos previam até uma conquista tranquila do tri, casos de Alberto Hussein e do Professsor Pradhi.
 Feola, ao contrário de Dunga, que mostrou-se muito agressivo com os jornalistas, conquistando a antipatia geral da rapaziada, era um sujeito cordial, sereno, razão pela qual o presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), João Havelange, o considerava o sujeito talhado para o cargo. Sabia fazer do seu jeito paternal um meio de ser respeitado pelos atletas, dentro e for de campo, dirigindo-se a eles com tranqüilidade, até nos momentos em que deveria ser enérgico. “É um homem com a cabeça fria para resolver os mais sérios problemas”, dizia Havelange, que admirava muito a classe do treinador em lidar com os repórteres, jamais se desgastando, ainda que considerasse algumas críticas injustas, ou mesmo convivesse com invenções, como a que ele dormia enquanto a seleção jogava.
 Ao contrário do autoritário Dunga, que recebeu de Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF, sucessora da CBD), todo o poder para agir, Feola era democrático. “Quando o escrete está engasgado com o sistema defensivo do adversário, ele gosta de ouvir os jogadores, para tomar uma decisão acertada”, declarou Havelange à Revista.do Esporte, de 25.06.1966,  nº 381.
 Dunga caiu de pára-quedas como treinador da Seleção Brasileira. Conta-se que, durante um jantar na casa do assessor de imprensa da CBF, Rodrigo Paiva, a namorada dele, a atriz Maitê Proença, sugeriu a Teixeira o nome do capitão do tetra, que jamais trabalhara no ofício. A outra versão é a de que o líder durão de 1994 seria o cara capaz de acabar com as festividades ocorridas durante a Copa-2006, quando as estrelas não teriam levado nada a sério, só pensando individualmente. Feola, diferente de Dunga, tinha currículo. Fora o auxiliar técnico de Flávio Costa, na Copa do Mundo-1950, e era um estudioso do futebol.
  Diz-se que Dunga escolheu Jorginho como seu auxiliar técnico porque o colega do tetra jamais o incomodaria. Já Feola fazia questão do diálogo. Chegava para o Paulo Machado de Carvalho, o chefe da delegação em 1958/62, e dizia: “Vou colocar o Pelé no time”. Quem era Pelé? Então, "um ilustre desconhecido" pelo mundo. Se bem que, faça-se justiça, quem primeiro o convocou para a Seleção fora Sílvio Pirillo, assistindo aos jogos do Combinado Vasco-Santos, em 1957, no Maracanã.
 Diferente da veia explosiva de Dunga, que levou o time a ter expulsões de campo, a receber cartões de advertência desnecessários e a se descontrolar quando precisava reagir, o compreensivo e pacato de Vicente Feola teve papel fundamental na conquista do título da Copa-58. Ele não se constrangia de ouvir, ns vésperas de jogos difíceis, as opiniões de líderes como Nilton Santos, Didi, Bellini e Gilmar, grandes responsáveis pelas pressões que culminaram com as entradas de Garrincha e de Pelé no time titular, diante da temível então União Soviética. Ele foi o responsável por mandar Pelé ao jogo. Assumiu toda a responsabilidade.
Feola jamais estufava o peito, depois das vitórias, para vangloriar-se. Preferindo dividir os méritos com o coletivo, por que era homem de equipe, ao contrário de Dunga, que se declarara o “resgatador da imagem da seleção brasileira”.



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domingo, 4 de julho de 2010

"MÉDICI NÃO ESCALOU A SELEÇÃO"

 Afirmação é do ex-ministro Jarbas Passarinho, que comandou Educação, Cultura e Desportos

No último dia 21 de junho, fez 40 anos que a Seleção Brasileira conquistou o tri, no México. A época era marcada pela luta entre o governo militar do general Garrastzu Médici e a guerrilha urbana, os chamados subversivos, que chegavam a seqüestrar embaixadores. Falou-se muito que o presidente usava o futebol para promover o seu governo e que conquistar a Copa do Mundo era um imperativo para o Palácio do Planalto. O ministro da Educação, Cultura e Desportos da época, o coronel Jarbas Passarinho, volta ao passado e fala ao repórter Gustavo Mariani (foto) sobre o que garante ter sido verdade e lenda.
P – A Seleção Brasileira estava em crise, durante os preparativos para a Copa -70, no México. Com ministro da Educação, Cultura e Desportos, é verdade que o senhor prometera cobrar explicações da Confederação Brasileira de Desportos (CBD)?
R - Havia críticas à Seleção, por todo o país, e isso preocupava a todos nós. Falei com o presidente da CBD, o João Havelange, que o (Garrastazu) Médici (presidente da República) interessava-se muito pelo tema e que era preciso uma providência. O presidente gostava tanto de futebol que acompanhava jogos com o radinho de pilha colado aos ouvidos. Enfim, o ambiente estava muito conturbado, com o João Saldanha municiando a imprensa, após ter sido trocado pelo Zagallo.
P - Verdade, ou lenda, que o João Saldanha lhe procurou para fazer denúncias?
R – Na verdade, eu o convidei a visitar-me, para conversarmos sobre o que ele falavaz à imprensa. Ele veio a Brasília, ficamos só nos dois, no meu gabinete, e pedi-lhe as suas denúncias por escrito. Prometi-lhe investigá-las, depois da Copa do Mundo, qualquer que fosse o resultado da Seleção. Mas que ele parasse com aquilo, porque prejudicava a equipe, que vinha levando vaias da torcida. Então, ele desfilou as suas queixas e eu as anotei.
P – Quarenta anos depois, o senhor ainda se lembra dessas denúncias?
R – Me lembro que mandei a minha secretária datilografá-las e lacrei o envelope. O que ainda tenho firme na memória é a insatisfação do Saldanha sobre a nova doutrina passada aos jogadores, após a sua troca pelo Zagallo. Ms o que e chamou mais a atenção foi a insistência dele em denunciar homossexualismo no basquetebol juvenil. Nada tinha a ver com a Seleção. A imprensa disse, depois, que o Zagallo atendera ao presidente Médici, para convocar o atacante Dario (Atlético-MG), mas isso é lenda. O treinador nunca esteve comigo (por quem passaria, primeiramente), e nem com o presidente.
R – Falou-se que o ministro da Educação, Cultura e Desportos dissera que o clima pesado em torno da Seleção abalava a opinião pública e que era preciso transformá-la em modelo de ordem e disciplina. Também, que o senhor discutia isso com o presidente Médici, enquanto o João Havelange reunia-se com os ministros dos gabinetes civil (Leitão de Abreu) e militar (general João Figueiredo), além do chefe do Serviço Nacional de Informação (general Carlos Alberto Fontoura). Verdade?
R - A fala atribuída a mim é verdade, mas reunião do Havelange com aqueles ministros é lenda. O Havelange reuniu-se comigo, e ficou de tratar do assunto. Então, essa missão ficou muito bem desempenhada pelo brigadeiro Jerônimo Bastos. (presidente do Conselho Nacional de Desportos e chefe da delegação Brasileira na Copa-70). O que eu dissera sobre ordem e disciplina havia dito ao Saldanha, quando pedi-lhe para parar de atordoar a Seleção.
P – A imprensa divulgou, também, que Havelange, após ter vindo a Brasília, teria que submeter à aprovação do governo todos os seus futuros atos á frente da CBD...
R - Lenda. O Havelange tinha muito bom relacionamento com o (presidente) Medici.
P – Como ministro responsável pelos desportos, durante Copa-70, o senhor acompanhava os jogos junto com o presidente?
R – Não. Só estive junto com ele nesses momentos quando fomos a um jogo do Flamengo, no Maracanã. Fiquei preocupado com a possibilidade de alguma manifestação desagradável a ele, porque o governo, naquele momento, enfrentava a guerrilha urbana. Quando o locutor do estádio anunciou a sua presença, as minhas pernas tremeram. Mas o que aconteceu foi muitos aplausos e nenhuma vaia.
P – Está escrito em vários livros e revistas que o presidente Médici tinha a obsessão de legitimar o seu mandato pelo apoio popular e que isso passava pela Seleção Brasileira trazendo o tri do México...
R – O presidente não tinha tal obsessão. Ele contava com grande popularidade, não precisava daquilo. Fui testemunha do clamor do povo em torno dele, em São Paulo, e no Pará, durante a sua maior festa religiosa, o Círio de Nazaré.
P - É verdade, como saiu, recentemente, em um livro, que o presidente Médici, para popularizar o seu governo, telefonou aos jogadores da Seleção, após a vaga na final da Copa, vencendo o Uruguai, por 3 x 1, incitando-os à vitória sobre a Itália, na final? (foto do gol de Pelé)
R - Eu jamais soube disso e duvido. Acho uma maldade escreverem que o presidente precisava de tais artifícios para popularizar o seu governo. Ele teve contato com o brigadeiro Jerônimo Bastos, que lhe foi levado pelo Havelange, quando eu o convidei para presidir o CND.
P - No dia em que a Seleção passou à final da Copa do Mundo (17.06.1970), o governo do general Médici trocava 40 presos políticos pelo embaixador alemão Von Holleben. Falou-se que os jogadores da Seleção condenaram o ato, lá do México...
R – É outra invenção maldosa. O que de oficial saiu do governo naquele dia foi a condenação à insubordinação do coronel Dickson Grael, por liderar pára-quedistas para tentar impedir a partida dos presos políticos para a Argélia. Felizmente, ele chegou 15 minutos atrasados.
P – Foi amplamente divulgado que o presidente Médici dera o palpite de 4 x 1 para o Brasil no placar da final da Copa. Foi mesmo?
R – Eu perguntei ao presidente porque ele havia apostado em um placar tão alto numa final de Copa do Mundo, e ele me respondeu: ‘O meu palpite seria 2 x 1, mas, partindo de alguém que conhecia bem e acompanhava o futebol (fora atacante juvenil do Bagé-RS), palpitar um placar apertado daria a entender que o presidente da República não tinha confiança na sua seleção. Então, aumentei para 4 x 1’.
P - Havia muito, nos jornais, fotos do presidente com o radinho de pilha, acompanhando o futebol. Ele discutia, também, com os amigos mais chegados, sobre jogos?
R - Me lembro que, nas segundas-feiras, eu e o ministro Leitão de Abreu costumávamos comentar com ele sobre as vitórias e derrotas do Grêmio e do Flamengo, os seus dois times prediletos. Coisas mesmo de torcedor – Jabás Passarinho, antes de ser militar, foi atacante juvenil do paraense Clube do Remo.