quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O DURO DUNGA E O CORDIAL FEOLA

                           DIFERENÇAS ENTRE DOIS TREINADORES DE SELEÇÃO
Tudo o que aconteceu após a Copa-2010 – torcedores execrando treinador e atletas, devido a eliminação precoce da Seleção Brasileira (pela holandesa) – já houve. Exemplo. Depois do Mundial-1966, para revolta de sua mulher, Dona Joanina, a casa do técnico Vicente Feola, em São Paulo, precisou de proteção policial.  Afinal, treinadores de todo o mundo colocavam o Brasil entre os favoritos ao título, sem falar que astrólogos previam até uma conquista tranquila do tri, casos de Alberto Hussein e do Professsor Pradhi.
 Feola, ao contrário de Dunga, que mostrou-se muito agressivo com os jornalistas, conquistando a antipatia geral da rapaziada, era um sujeito cordial, sereno, razão pela qual o presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), João Havelange, o considerava o sujeito talhado para o cargo. Sabia fazer do seu jeito paternal um meio de ser respeitado pelos atletas, dentro e for de campo, dirigindo-se a eles com tranqüilidade, até nos momentos em que deveria ser enérgico. “É um homem com a cabeça fria para resolver os mais sérios problemas”, dizia Havelange, que admirava muito a classe do treinador em lidar com os repórteres, jamais se desgastando, ainda que considerasse algumas críticas injustas, ou mesmo convivesse com invenções, como a que ele dormia enquanto a seleção jogava.
 Ao contrário do autoritário Dunga, que recebeu de Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF, sucessora da CBD), todo o poder para agir, Feola era democrático. “Quando o escrete está engasgado com o sistema defensivo do adversário, ele gosta de ouvir os jogadores, para tomar uma decisão acertada”, declarou Havelange à Revista.do Esporte, de 25.06.1966,  nº 381.
 Dunga caiu de pára-quedas como treinador da Seleção Brasileira. Conta-se que, durante um jantar na casa do assessor de imprensa da CBF, Rodrigo Paiva, a namorada dele, a atriz Maitê Proença, sugeriu a Teixeira o nome do capitão do tetra, que jamais trabalhara no ofício. A outra versão é a de que o líder durão de 1994 seria o cara capaz de acabar com as festividades ocorridas durante a Copa-2006, quando as estrelas não teriam levado nada a sério, só pensando individualmente. Feola, diferente de Dunga, tinha currículo. Fora o auxiliar técnico de Flávio Costa, na Copa do Mundo-1950, e era um estudioso do futebol.
  Diz-se que Dunga escolheu Jorginho como seu auxiliar técnico porque o colega do tetra jamais o incomodaria. Já Feola fazia questão do diálogo. Chegava para o Paulo Machado de Carvalho, o chefe da delegação em 1958/62, e dizia: “Vou colocar o Pelé no time”. Quem era Pelé? Então, "um ilustre desconhecido" pelo mundo. Se bem que, faça-se justiça, quem primeiro o convocou para a Seleção fora Sílvio Pirillo, assistindo aos jogos do Combinado Vasco-Santos, em 1957, no Maracanã.
 Diferente da veia explosiva de Dunga, que levou o time a ter expulsões de campo, a receber cartões de advertência desnecessários e a se descontrolar quando precisava reagir, o compreensivo e pacato de Vicente Feola teve papel fundamental na conquista do título da Copa-58. Ele não se constrangia de ouvir, ns vésperas de jogos difíceis, as opiniões de líderes como Nilton Santos, Didi, Bellini e Gilmar, grandes responsáveis pelas pressões que culminaram com as entradas de Garrincha e de Pelé no time titular, diante da temível então União Soviética. Ele foi o responsável por mandar Pelé ao jogo. Assumiu toda a responsabilidade.
Feola jamais estufava o peito, depois das vitórias, para vangloriar-se. Preferindo dividir os méritos com o coletivo, por que era homem de equipe, ao contrário de Dunga, que se declarara o “resgatador da imagem da seleção brasileira”.



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