Antigamente, no futebol brasileiro, goleiro não ficava rico, porque não fazia gols, e nem tinha perspectivas de sucesso em outra profissão, porque não estudava. No máximo, seria um futuro ‘pobre famoso”. Só um representante da categoria fugiu à regra: Alcir Braga Sanches (foto). Ele defendeu o Olaria, estudou, chegou a diretor de faculdade federal e tem curso de mestrado por uma das inistituições mais badaladas do ensino superior brasileiro.
Quando não está trabalhando, a indumentária predileta de Alcir, como um autêntico carioca, é bermuda e a camisa do Olaria, para passear. No momento, ele anda na bronca com as TVs, que “não passam os jogos do líder do Grupo B da Taça Rio”, como destaca. No entanto, espera ver os alvuiazuis na telinha, brevemente, pois considera altíssima a chance de seu time disputar esta fase da competição.
“O Olaria está surpreendente, e sem a injeção de petróleo que chega aos times da Bacia de Campos”, imagina ele, que promete engrossar a torcida olariense, durante as semifnais da Taça RJ. Mas não se impressiona. “No meu tempo, Olaria, Bonsucesso, Portuguesa, Madureira, Campo Grande e São Cristóvão sabiam que não eram páreo para Botafogo, Flamengo, Fluminese Vasco, Bangu e América. O Olaria está lá em cima, hoje, devido a queda de nível técnico dos grandes”, não se engana.
Professor da Universidade de Brasília, Alcir chegou ao ponto máximo de sua carreira, como diretor da Faculdade de Educação Física, eleito para dois mandatos, 1979 a 1981. A profissão começou a surgir em sua vida quando as contusões lhe fizeram perder a vaga de titualr do Olaria, para Ubirajara Alcântara, que se consagrou no Flamengo. Em 1965, ele havia sido eleito o melhor goleiro do Campeonato Carioca Juvenil e foi o titular da seleção carioca campeã juvenil brasileira.
“Deixei o Olaria e fui reprovado em um teste físico fortíssimo, coisa para atleta olímpico, no vestibular da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 69, fui aprovado na Escola Superior de Educação Físíca de Goiás, onde um dos meus professores era o Tomazinho, o técnico do time do Goiás. Terminei goleiro dele, até 1974. Mas, como eu priorizava os estaudos, fui mais reserva do que titular”, conta ele que, das vezes em que vestiu a camisa 1 goiana, se lembra de uma grande atuação em um amistoso contra o Alianza, que era a base da seleção peruana.
Quando Alcir formou-se, a UnB abrira concurso público para professor. Ele estava no grupo inscrito pelo Goiás, para a primeira participação do clube no Campeoanto Brasileiro, mas preferiu deixar de ser goleiro, para tornar-se professor universitário, de futebol e de handebol. Mais tarde, cursou um mestrado, na USP (Universidade de São Paulo), em desenvolvimento motor. Mas ainda ensina futebol, indistintamente, para homens e mulheres.
A CARREIRA – Alcir chegu ao Olaria, em 1964, com 14 anos de idade. Jogou pelos infantis e os juvenis e, de repente, aos 17 anos, viu-se dentro do Maracanã, encarando os “matadores” cariocas, Jairzinho e Roberto Miranda (Botafogo), Amoroso (Flu), Paulo Borges (Bangu), Célio (Vasco), Silva (Fla) e Edu (América). Tudo porque o treinador Daniel Pinto perdera a paciência com Jurandir e Jaéder, as suas opções para a camisa 1. Então, o time-base do Olaria-1966 passou a ser: Alcir; Hélcio, Flodoalvo, Osmani e Nilton dos Santos; Ocimar e Helinho; Joãozinho, Uriel, Atoninho e Naldo.
“Por aquela época, o goleiro mais famoso do futebol carioca era o Manga, do Botafogo. Eu estreei num jogo noturno, 0 x 0, com o Bonsucesso, na Rua Teixeria de Castro, onde ficava o campo deles. Joguei todo o segundo turno como titular, nos classificamos entre os oito que disputariam o segundo turno e terminamos a temporada em sétimo lugar ”, lembra Alcir, com uma revelação: “Em 1969, o Olaria veio enfrentar a
Seleção Brasiliense, e vencemos, por 3 x 1”
Em seu primeiro contrato cm o Olaria, Alcir recebeu Cr$ 1 milhão de cruzeiros, de luvas, e Cr$ 250 mil cruzeios mensais. Parecem números fantásticos, mas a inflação do período os reduzia a pouca coisa. Dava só mesmo para e não pedir mais dinheiro aos pais, com quem morava. No Goiás, Alcir já ganhou o suficiente para se manter e comprar o seu primeiro carro. Se tivesse3 ficado pelo Olaria e não estudado, certamente, estaria pegando carona.