sexta-feira, 23 de abril de 2010

UM GOL PARA O TIO ALPI VIBRAR

O Tio Alpi estava ansioso. Sua irmã, Janira, já sabia que o neto Kaká treinava no time principal do São Paulo. Seu filho Bosco lhe avisara. Na noite de 31 de janeiro de 2001, quando os são-paulinos empataram, por 1 x 1, com o Botafogo – pelo Torneio Rio-São Paulo – e o árbitro Ubiraci Damásio de Oliveira autorizou a entrada do garoto no gramado do Maracanã – no lugar de Sidney –, Alpiniano Pereira de Sousa colou os ouvidos colados no rádio. E repetiu a expectativa pelos jogos seguintes – válidos pelo Rio-SP e pelo Paulistão.
Kaká entrou sempre no decorrer das partidas – duas vezes substituindo Harison, mais duas na vaga de Carlos Miguel, uma na de Sousa e uma outra na de Rogério Pinheiro – contra Flamengo (07.02), Inter de Limeira (10.02), Fluminense, (14.02), São Caetano (18.02), Botafogo (28.02) e Ponte Preta (03.03). Mas o Tio Alpi só foi explodir a sua alegria maior no 27 de março, quando Kaká entrou, no segundo tempo, no lugar de Fabiano, e marcou os dois gols da virada do São Paulo (2 x 1) sobre o Botafogo, dando ao tricolor paulista o único título que lhe faltava, o de campeão do Rio-São Paulo. Kaká agradeceu a Deus, guardou a camisa campeã, fez uma dedicatória no peito e a enviou para o Tio Alpi.
A partir dali, Alpiniano tornou-se o maior torcedor daquele garoto que nascera no Hospital Regional do Gama (26.04.82) e jogava bola em frente à casa 9 da QNB-9, em Taguatinga. E Kaká não esquecia dele em nenhum momento de glória. Quando firmou-se como titular no Milan, logo autografou o calendário do clube e o enviou. Já como craque mundialmente consagrado, teria de marcar um gol, com a camisa da Seleção Brasileira para o Tio Alpi assistir. Era o maior sonho da vida do parente. E a oportunidade chegou. No dia 27 de março de 2005, Bosco (pai), Janira (avó), Simone (mãe) e outros familiares levaram o Tio Alpi ao hotel onde a Seleção se hospedava, em Goiânia.Alpiniano tirou fotografias abraçado com o sobrinho e, na noite seguinte, foi esperar por ver-lo mandando uma bola nas redes do Serra Dourada – o Brasil enfrentaria o Peru, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2006.
Aos 32 minutos, Kaká marcou gol da vitória (1 x 0) brasileira. O Tio Alpi, que andava muito mal de saúde, quase não resiste à emoção. Pouco depois, “foi agradecer pessoalmente, a Deus”, como definiu o sobrinho Elpídio Pereira de Sousa Neto, o Pido, que guarda, com muito cuidado, a camisa e o calendário enviados por Kaká ao seu maior torcedor.
Naquela noite, a Seleção Brasileira foi escalada, pelo técnico Crlos Alberto Parreira, com: Dida; Cafu, Lúcio, Juan e Roberto Carlos; Emerson, Zé Roberto, Juninho Pernambucano (Robinho), Ronaldinho Gaúcho e Kaká; Ronaldo.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O HOMEM QUE CALCULOU O MARACANÃ

Em 1948, o mercado para engenheiros no Brasil era restrito, principalmente, no setor de cálculos, pois só havia escolas de engenharia no Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Porto Alegre, fato que obrigava as construtoras a importarem muitos profissionais da Europa. Por aquela época, o gaúcho (de Uruguaiana), Tertuliano Bofill estava com 28 anos de idade, formado pela carioca Universidade do Brasil (1946), e já carregando uma boa experiência, pois a escassez de engenheiros calculistas lhe garantira emprego antes de colar grau.
Como todo engenheiro atento ao mercado, no dia 14 de novembro de 1947, Tertuliano leu nos jornais que o prefeito do Rio de Janeiro, o general Ângelo Mendes de Moraes, assinara a lei municipal nº 57, que daria à cidade o maior estádio de futebol do mundo. Só não imaginava que, no ano seguinte, ele seria um dos engenheiros a trabalhar no projeto que permitiria o Brasil sediar a primeira Copa do Mundo depois da Segunda Guerra Mundial. “Por aquele tempo, o carioca ainda estava chocado com os horrores do conflito que o cinema mostrava”, lembra Tertuliano, hoje com 87 anos de idade, residindo em Brasília, ainda trabalhando e único sobrevivente do “time” de engenheiros que, há 58 anos, começou a construir o Maracanã. “Ainda sou uma criança. Nem cheguei aos 90. Por isso, ainda bato uma bolinha calculando, pois a minha aposentadoria, de R$ 1,650 reais não dá para pagar em o aluguel do apartamento”, brinca ele.
Tertuliano servia a uma construtora chamada Nacional, com escritórios na Rua México, nº 18, no Rio, quando foi convocado para trabalhar na construção do Maracanã, da metade até o final de 1948. “Seis empresas foram contratadas para construir o estádio e a nossa ficou responsável pela parte dos cálculos estruturais, o equivalente a um sexto das obras. Recebemos o projeto arquitetônico prontinho e caímos em cima nas verificações”, conta Bofill, acrescentando um detalhe: “O nome da firma era em português, mas predominavam engenheiros alemães, húngaros, suiços e iugoslavos (a Iugoslávia não existe mais como país). Éramos só três brasileiros”, relembra.
A firma que Bofill serviu durante a construção do Maracanã chegou ao Brasil nos anos da Segunda Guerra, como forma de seu presidente chefiar a propaganda nazista na América do Sul. “O Blantz (Bofill não se lembra do primeiro nome do alemão) foi descoberto e desmascarado, em 1945, por um famoso caçador de nazistas, o tal de Mister Connely, que servia na embaixada norte-americana, no Rio. A empresa foi à liquidação passou a ter como controladores um coronel, Luiz Toledo, e um engenheiro cujo nome não me lembro mais. Mas eles não podia, dispensar os engenheiros alemães, experientes e competentes. O rigor deles no trabalho era impressionante. Após eu analisar minunciosamente os cálculos estruturais, isso ainda passava pela conferência de mais dois engenheiros, para não permitir o aparecimento de gatos (arranjos fora do projeto). Como esse trabalho era feito no escritório, outros dois engenheiros ficavam permanentemente nas obras, atentos, conferindo tudo. Qualquer dúvida, vinham ao escritório me consultar. Independentemente disso, depois do expediente nas obras, eram obrigados a comparecerem à sede para fazerem um relatório sobre o dia”, relembra Tertuliano.
Além dos cálculos estruturais de um sexto das obras do Maracanã, Tertuliano Bofill foi encarregado também de seqüenciar, administrar os estudos que os engenheiros-residentes faziam para a parte volumétrica da obra. “Eram os volumes de concreto e de madeira, dos quilos de ferro, de cimento e brita, da mão-de-obra, enfim, de tudo o que deveria constituir o orçamento”, explica.
ARTIGO RARO - A estréia do engenheiro Tertuliano Bofill em construções esportivas deveria ter ocorrido três anos antes de ele participar da construção do Maracanã. Ele fora contratado para trabalhar na finalização do quarto pavimento do Jóquei Clube Brasileiro, como o que hoje seria estagiário de engenharia civil. Ficaria na construção de arquibancadas. Porém, o excesso de cálculos que esperavam por serem feitos no escritório da empresa mudou seu futuro. “Encontrar engenheiros calculistas era dificílimo”, afirma ele, sorrindo das dificuldades da época. “A engenharia brasileira daquele tempo ainda nem conhecia o madeirite. Pra se fazer as formas que receberiam os enchimentos, tinha-se que encomendar tábuas de pinho no Rio Grande do Sul”.
Tertuliano Bofill já usa programas de computadores nos trabalhos que pega hoje, mas na época que integrou o grupo que fez nascer o Maracanã não conseguia avançar muito durante as oito horas diárias de trabalho. “Era na base do lápis e da régua de calcular. No mais, eu só dispunha de uma maquineta suíça de fazer contas, o que de mais moderno havia no País. Era só aquilo. Você recebia o projeto e tinha de se virar com aqueles três instrumentos para fazer as hipóteses de cálculo. Era assim que o engenheiro calculista verificava se o dimensionamento do cálculo estava correto. Em um dia, não se fazia muita coisa, não”, relata.
Além das dificuldades tecnológicas, Tertuliano convivia também com atrasos na lei trabalhista brasileira. O domingo de descanso não era remunerado e os engenheiros eram obrigados a trabalhar quatro horas no sábado. Durante a semana, só tinham uma hora para almoçar. “E eu ainda tinha outra atribuição. Como não havia o que hoje se chama office boy no escritório, tinha de sair à rua para providenciar as cópias heliográficas do projeto que seria enviado ao engenheiro que estava na obra. Não havia cópias xerox no Brasil ainda”, historia.
ÚNICA VISITA - Durante a construção do Maracanã, a expectativa do carioca era muito grande, principalmente pela realização de uma Copa do Mundo no Brasil. “Os próprios engenheiros alemães achavam extraordinário estarem trabalhando para um evento daqueles”, afirma Tertuliano Bofill, que, por se destacar no Rio de Janeiro como calculista, recebeu o convite de uma firma inglesa para ganhar quase três vezes mais em São Paulo. Mas em só no Maracanã ele havia trabalhado no Rio. Fizera, também, cálculos para muitas outras obras, entre elas o píer da Praça Mauá.
Em São Paulo, Tertuliano acompanhou a Copa do Mundo de 1950 pelo rádio. No dia da final, entre Brasil e Uruguai, ele teve o pressentimento de que os visitantes levariam a taça. Então, foi ao cinema. Quando saiu, encontrou as ruas paulistanas mudas. “Se eu não tivesse trocado de emprego, certamente, estaria no Maracanã naquele dia, pois eu gostava muito de futebol, torcia pelo Botafogo, era sócio do clube. Fui a muito jogos e aplaudi bastante o Carvalho Leite, que era médico e um dos nossos grandes goleadores”, recorda ele, que só esteve uma vez no Maracanã. “Isso foi em 1951. Não me lembro qual era o jogo. Só me recordo que o público era pequeno e que passei grande parte da partida explicando a minha irmã, que levei junto, detalhes da construção do estádio”, revela o homem que fez, também, todos os cálculos para a construção de um prédio que ocupa um quarteirão em Salvador, o Fórum Ruy Barbosa.
TERRENO DE RIVAIS - Além do Maracanã, o engenheiro Tertuliano Bofill deu uma “mãozinha” também ao Flamengo. De volta ao Rio, em 1951, a firma que lhe tirou de São Paulo para chefiar seus engenheiros na Cidade Maravilhosa lhe entregou a fiscalização do acabamento dos últimos andares da sede flamenguista, no Morro da Viúva. Havia um engenheiro encarregado técnico e um responsável geral pelas obras. De repente, ele , o alvinegro, adentrava o terreno rubro-negro para inspecionar as obras.
Se o time do Flamengo tivesse o preparo físico daquele engenheiro gaúcho que lhe servia, certamente, iria despertar as suspeitas dos adversários. “Eu havia trabalhado no rigor dos alemães e depois com os pontuais ingleses. Aos 31 anos, subia os vinte-e-tantos degraus da obra correndo pelas escadas”, garante Bofill, que jura ter mantido o mesmo desempenho físico quando construiu eclusas (para a subida do nível de águas e permitir a nevegação) no Rio São Francisco e trabalhou no porto de Paranaguá, no Paraná.
Quando servia ao Flamengo, Tertuliano não encontrou mais pelo Rio os engenheiros alemães dos tempos que fez cálculos para o Maracanã. “Não vi mais o Glauzer, o Schwinter, o Dautzer, o Gheselhin, o Schroeder, nenhum dos 17 colegas da época”, cita.
PATAS DO CAVALO - No local onde hoje está o Maracanã, funcionou antes o Prado Fluminense, pertencente ao Derby Clube do Rio de Janeiro, aberto em agosto de 1885 e presidido pelo engenheiro Paulo de Frontin. Fechado após ser engolido pelo Hipódromo da Gávea, inaugurado em 1926, o Derby fundiu-se ao Jóquei Clube, em 1930, para criar o Jóquei Clube Brasileiro. Mais tarde, este permutou o terreno por outra área com a antiga Prefeitura do Distrito Federal, vindo o local, durante a Segunda Guerra Mundial, em 1945, a ser usado pelo exército brasileiro como destacamento de carros de combate.
Quando o prefeito do Rio, Mendes de Moraes, partiu para a construção do estádio, encontrou forte oposição da UDN (União Democrática Nacional), liderada pelo deputado Carlos Lacerda, que defendia a construção na Baixada de Jacarepaguá. Mas terminou nascendo nas proximidades dos rios Trapicheiros e Maracanã, bem perto da confluência da Tijuca com o Andaraí.
Não se sabe quem marcou o primeiro gol no Maracanã, pois na noite de 16 de junho de 1950, foi disputada uma pelada entre engenheiros e operários para testes do gramado. Ninguém anotou o placar. Oficialmente, o primeiro gol foi marcado por Valdir Pereira da Silva, o Didi, meia do Botafogo, no jogo entre as seleções de novos do Rio e de São Paulo. “Aos 9 minutos do primeiro tempo, Silas tabelou comigo na entrada da área. Bati , de pé direito, com efeito, e a bola fez uma curva, passando pelo ângulo direito do Osvaldo (goleiro paulista)”, me contou Didi, há 14 anos, durante um almoço aqui em Brasília, junto com o ex-atacante botafoguense Jairzinho e o jornalista Jorge Martins.
FICHA DA CONSTRUÇÃO
Foram consumidos 500 mil sacos de cimento;
10 mil toneladas de ferro;
80 mil metros cúbicos de concreto;
650 mil metros quadrados de madeira;
45 mil metros quadrados de areia;
39 mil e 572 mil meros cúbicos de terra escavados para fundações;
475 mil e 562 metros quadrados de formas;
137 milhões e 700 mil metros cúbicos de aterro;
40 mil caminhões foram utilizados;
7 milhões e 730 mil horas de trabalho ininterruptos.

O CAPITÃO QUE LIBERTAVA JORNALISTAS

O povo brasileiro estava com os ouvidos colado no rádio, naquele 29 de junho de 1958, ouvindo a final da Copa do Mundo, na Suécia. Perto de onde hoje fica o Hotel Nacional de Brasília, havia uma construção de madeira alojando uma das unidades da Polícia do Exército, que dava segurança ao presidente Juscelino Kubitscheck. Pouco antes de o jogo começar, o JK pediu a José Bonetti, um dos coordenadores de sua segurança, para conseguir um rádio, pois também queria ouvir a partida. Como ainda não havia palácios construído na futura capital, no quartel improvisado, o presidente ouviu um tempo do jogo, vibrando com a narração do locutor Oduvaldo Cozzi.
Naquele dia, nasceria uma relação de respeito mútuo entre JK e Bonetti, que não seria interrompido nem nos mais duros períodos da ditadura militar (1964/1985), quando Juscelino fora chamado pelo 1º Exército para depor no Rio de Janeiro. Sozinho, ao lado do advogado Sobral Pinto, JK aguardava a hora de falar aos militares. Ninguém se aproximava ou lhe dava confiança, afinal ele era um inimigo do regime que dominava o país. Entre os jornalistas, a expectativa era a de que fosse maltratado, humilhado durante o depoimento. Chegando de uma missão ao quartel, Bonetti o viu, e não teve dúvidas. Desafiou todos os olhares e recomendações e foi cumprimentar o homem que construíra Brasília. Naquele momento, era colocar a cabeça a prêmio. Como castigo, fora incumbido de dar segurança ao governador eleito do Rio de Janeiro, Negão de Lima, que vivia o difícil período do “toma-não toma-posse”, até que o Exército decidisse. Afinal, quem era aquele José Bonetti? Um 1º tenente. Era tudo o que ele nos inícios do regime militar dos generais presidentes. Além daquilo, só podia contar que era amigo do então presidente da Confederação Brasileira de Desportos, João Havelange, que o colocou para coordenar 23 modalidades desportivas amadoras, pois tinha ligações com o basquete e o vôlei, principalmente, como treinador.
 Em 69, quando já tinha cursado a Escola de Educação Física do Exército, Bonetti recebeu o convite de Antônio do Passos, diretor da CBD, para fazer parte da comissão técnica da Seleção Brasileira que disputaria as Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1970, no México. Para a imprensa, a comissão repleta de militares só teria uma missão: vigiar o técnico comunista João Saldanha. E, junto com os também capitães Cláudio Coutinho e Raul Carlesso, Bonetti, entrou nessa, mas terminou amigo dos jornalistas, para a sorte de muitos representantes da categoria. Exemplo: a localização e libertação de Marcos de Castro, do Jornal do Brasil.
Marcos era um sujeito muito religioso, que não se envolvia em nada mais que não fosse jornalismo. No entanto, quando a guerrilha urbana seqüestrou o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Buck Elbrik, em 69, ele, que não tinha nada a ver com o caso, desapareceu. Sua família, apavorada, passou a pressionar o Jornal do Brasil, para descobrir o que acontecera. Como nada se descobria, os repórteres Dácio de Almeida e Oldemário Touginhó, lembraram-se do capitão Bonetti. “Eu já havia perdido muitos companheiros na guerrilha urbana e sabia o quanto aquilo doía na família. Como eu havia servido na Polícia do Exército e tinha bons contatos por lá, e também na polícia civil, os orientei sobre que passos deveriam tomar, pois eu não podia aparecer de peito aberto assim. Depois de muitos contatos, descobri que o Marcos de Castro estava preso no Batalhão de Carros de Combate, que ficava na Avenida Brasil. Então, por intermédio de demarches realizadas pelo capitão Calomino, conseguimos tirar o rapaz de lá”, conta Bonetti, que leu a acusação que pesava contra jornalista: avalista no aluguel de um “aparelho” (nome que os órgão de repressão davam aos locais onde os chamados subversivos conspiravam) para o hoje deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ). “Na verdade – prossegue Bonetti – o Marcos, apenas, atendera ao pedido de um colega jornalista, como já o fizera com dezenas de outros companheiros de profissão. Mas o que pegou foi o fato de o Gabeira ter sido incluído na lista dos presos políticos trocados pela liberdade do embaixador norte-americano”.
Bonetti evita falar sobre os anos de chumbo, preferindo papear sobre esporte, mas revela que deu uma “ajudinha” também para Carlos Heitor Cony, hoje, membro da Academia Brasileira de Letras e, na época, da revista Manchete. “Ele estava preso em uma unidade na qual eu estava servindo, e um não o deixava ficar em situações que o levassem à depressão. Conversávamos muito e ficamos amigos, ao ponto de ele me oferecer todos os seus livros. Terminei seu fã, o lendo diariamente, depois que saiu”. Ante a insistência, ele só concordou em contar mais um caso: o do desaparecimento do pai do jornalista Oldemário Touginhó, também no Rio. O encontrou em uma geladeira, do Instituto Médico Legal, após 40 dias de procura. Conseguiu esclarecer que o homem tiver um infarto na rua e fora recolhido como indigente, pois não tinha nenhuma ligação com política.

A VOLTA DE ZICO-1985

A lista de atletas que voltaram ao futebol brasileiro, a partir de 2008, foi grande e incluía “ilustres ex-desconhecidos, como o goleiro Fernando Prass, do Vasco, e os atacantes Emerson, do Flamengo, Everton Santos, do Fluminense, e Victor Simões, do Botafogo. Ninguém sabia, também, quem era Fábio Santos, “resgatado” pelo Flu. Mas muitos se lembravam, vagamente, de Mozart, do Palmeiras; Alecssandro, do Internacional; Aloísio, repatriado, pelo Vasco, e Reinaldo, pelo Botafogo. Eles engrossaram a fila dos que foram fazer a vida lá fora e estavam, de novo, na praça.
Junto com os “voltantes”, também, regressaram passageiros famosos, casos de Ronaldo “Fenômeno”, defendendo o Corinthians; o goleador Fred, marcando gols para o Fluminense; o “Imperador” Adriano, vestindo a camisa do Flamengo, e o zagueiro Edmílson, capitaneando a equipe palmeirense. No passado, houve duas voltas eletrizantes: em 1976, a de Roberto Dinamite, do espanhol Barcelona, para o mesmo Vasco, de onde saíra, e a de Zico, em 1985, da italiana Udinese, também, para as suas origens, o Flamengo. Vamos conferir como foi o retorno do “Galinho” Arthur Antunes Coimbra, o maior ídolo do futebol brasileiro pós-Pelé.
DOSE DUPLA – Zico teve dois “jogos da volta”. O primeiro festivo, em 12 de junho de 1985, e o segundo, o oficial, dois dias depois, no Maracanã, contra o Bahia, quando marcou um gol nos 3 x 0 aplicados, pelo Flamengo, sobre os baianos, valendo pelo Campeonato Brasileiro.
Para repatriar o maior ídolo de sua história, o Fla contou com a ajuda de uma agência publicitária carioca, a Estrutural, que tinha entre os diretores Rogério Steinberg, que tocara o “Projeto Zico”, com o apóio da extinta TV Manchete. Pois bem! A turma foi à luta, “reentregou” o “Galinho de Quintino” à torcida rubro-negra e convidou uma série de craques famosos – Maradona, Paulo Roberto Falcão, Oscar Bernardi e Júnior (Leovegildo Lins Gama), entre outros, para defender um time chamado de “Amigos do Zico”, numa grande festividade.
A bola rolou, todo o país assistiu, pela TV, Zico voltando a ser rubro-negro e gols alegrando à moçada. Só o homenageado não gostou. Simplesmente, porque, numa festa em que estavam Diego Armando Maradona e vários craques que defenderam a Seleção Brasileira, ele vira uma terrível publicidade em cima de um personagem que ficara famoso pela sua fala fanhosa, o ponta-esquerda Jacozinho, do CSA, de Alagoas.
Badalado, principalmente, pelo apresentador de um programa de auditório concorrente da Manchete, Abelardo Barbosa, o Chacrinha, da Globo, Jacozinho tivera o seu nome incluído no rol dos participantes do jogo, por sugestão do radialista Whashington Rodrigues, ao presidente flamenguista, George Helal. Viajara ao Rio sem passagens fornecidas pela Estrutural e surpreendera Zico, quando este o encontrara no Othon Palacer Hotel, pois não estava na lista de convidados.
Um dia depois do seu primeiro “jogo da volta”, Zico acusou, pela imprensa, “concorrentes da TV Manchete, de fazerem uma jogada comercial”, em cima da promoção, que ocorrera numa noite de sexta-feira. Segundo ele, nada contra o atleta nordestino, como “jogador e figura humana”, apenas mágoas pelo que lhe parecera tentativa de esvaziar sua festa. “Tentaram dar mais importância à presença do Jacozinho do que de um craque como o Maradona, que saiu da Argentina para jogar no Maracanã e fez questão de ficar em campo os 90 minutos”, queixou-se Zico. De sua parte, Steinberg tirou o corpo fora, dizendo que George Helal lhe informara que Jacozinho estava nessa e que ele não se intrometera no mais, “porque o Helal, também, era um dos donos da festa”. E garantia que o atacante do time de Maceió não fora convidado pela sua agência. Enfim, Jacozinho entrou nos minutos finais da partida, tabelou com Maradona e marcou um gol, para vibração de todo o Brasil – menos de Zico.
O JOGO - O amistoso festivo que deixou o homenageado emburrado foi entre os “Amigos de Zico” e o Flamengo. Dirigido por Telê Santana, o time do “Galinho” venceu, por 3 x 1, com um gol do glorioso Arthur Antunes Coimbra, o 690 de sua história nas redes, cobrando falta, aos 24 minutos do segundo tempo – Tita, aos 17, e Marquinhos, aos 19, recebendo lançamento do dono da festa, fizeram os outros dois. O gol de Jacozinho, que entrara no lugar de Falcão, saiu aos 26 minutos da fse final. Após receber passe de Diego Armando, ele driblou o goleiro Cantarelli e levantou a galera, estufando a rede. O Brasil inteiro vibrou.
Apitado por José Roberto Wright, auxiliado por Élson Pessoa e Luis Antônio Barbosa, 39.263 pagantes compareceram ao estádio, proporcionando uma arrecadação de Cr$395 milhões 105 mil cruzeiros, a inflacionária moeda da época. Os “Amigos de Zico” foram: Paulo Victor (Gilmar); Pedrinho (Alemão), Oscar, Edinho Nazareth (Delgado) e Branco; Falcão (Jacozinho), Leovegildo Júnior e Maradona; Toninho Cerezzo (Roberto Dinamite (Nunes) e Eder Aleixo (Tato). Flamengo: Fillol (Cantarelle); Jorginho (Aílton), Leandro (Ronaldo), Guto e Adalberto (Nem); Andrade (Elder), Adílio (Júlio César) e Zico: Titã (Heider), Chiquinho e Marquinhos (Vinícius).
PRA VALER - Era tarde de domingo, dia 14 de junho de 1985. No Maracanã, 58.201 pagantes esperavam pela primeira partida oficial de Zico, na sua volta do futebol europeu. Os mais fanáticos lembravam que fora, exatamente, contra o Bahia, o adversário daquele dia, que o “Galinho” marcara o seu primeiro gol oficial – pelo Brasileiro de 1971.
Naquela época, vivia-se a segunda fase da Taça de Ouro, uma espécie de Série A do Brasileirão, e o Flamengo andava muito enrolado, vindo de fracas atuações, contra Ceará Sporting, Bahia e Brasil, de Pelotas-RS, quando marcara, apenas, dois gols. Com Zico, seu time subiu muito de produção, ganhando talento e experiência como novos componentes. E, assim, fez a melhor partida do ano, dominando os baianos e chegando, fácil, aos 3 x 0, num jogo tão tranqüilo, que, apenas, Estevam e Ademir, do time baiano, receberam o cartão amarelo.
Quem abriu a porteira foi Tita, aos 32 minutos do primeiro tempo, com um chute forte, da entrada da área. Zico aumentou, para 2 x 0, aos dois minutos da fase final, de falta: bola no ângulo esquerdo do goleiro Roberto, sem chances de defesa, cobrança perfeita. Aos 11, Chiquinho, um centroavante revelado pelo Botafogo, de Ribeirão Preto, e que fizera muitos gols no Paulistão-1995, tabelou com Adílio e fechou o placar. Depois, o Fla tocou a bola, poupou-se e segurar o resultado. De quebra, um torcedor invadiu o gramado, para abraçar o ídolo que estava de volta.
O Flamengo da reestréia de Zico foi: Ubaldo Fillol; Aílton, Leandro, Guto (Ronaldo) e Adalberto (Nem); Andrade, Adílio e Zico; Titã, Chiquinho e Marquinho. Mário Jorge Lobo Zagallo era o treinador. O Bahia teve: Roberto, Edinho, Estevam, Celso e Miguel; Sales, Marinho e Leandro (Bebeto); Robson, Ademir e Emo. Paulinho de Almeida, ex-lateral-direito do Vasco. Mna década-50, era o técnico do time. O jogo rendeu Cr$ 514 milhões, 371 mil cruzeiros e foi apitado por Luis Carlos Antunes, auxiliado por Antônio Paula e Silva e João Massoneto (SP).

quinta-feira, 8 de abril de 2010

BIMBINHA, O ENTORTADOR DO MARANHÃO

Ele parecia um capetinha. Baixinho e rápido, quando sacudia o esqueleto diante de um adversário, para lhe barrarem, só no tranco. Pra variar, era irmão de Reinaldo e de Egui, dois cobrões das peladas do bairro Tamancão, em São Luis. Um dia, Egui não pode comparecer a um compromisso do time do Atlântico. Na emergência, o jeito foi o treinador chamar um pirralho que vira "vestido de jogador", do lado dos irmãos, pra quebrar-lhe um galho. Resultado: depois do jogo, o homem teve trabalho para tirar o guri da sua equipe. Percebeu, logo, que o garoto era muito mais talentoso do que o irmão titular.
Mas foi por outras hostes, a do Pedrinhas, que o baixinho aconteceu, de montão. A sua turma foi convidada a enfrentar o Onze Irmãos, time de presidiários, e ele matou a pau. Terminou “preso”, pelo diretor da csa de detenção, José Carlos Viana Mendes, que chegou-lhe no cantão, avisando. "Moleque, você só sai daqui se der bode!". Ele queria dizer que o carinha estava intimado a vestir a camisa do Bode Gregório, o nome pelo qual a torcida do Maranhão Atlético Clube chama o seu clube, do qual o "delega" era um dos cartolas.
Pra se ver livre do diretor do presídio, o endiabrado e intimado atacante topou, no ato, respeitar a ameaça do homem. Só que, malandramente, aplicou um tremendo "estelionato desportivo"e na autoridade. e foi rolar a bola com os juvenis do Sampaio Correa. Nos "Bolivianos", apelido da agremiação, que tem as mesmas cores da bandeira da Bolívia, o sujeitinho tornou-se um dos maiores jogadores da história do futebol maranhense.
Com vocês, Bimbinha! Mais precisamente, Reginaldo Castro, maranhense nascido em 10 de junho de 1956, no Tamancão, vizinho do famoso bairro do Bacanga.
APELIDO CERTO - Bimbinha não poderia ser conhecido por um outro nome. Medindo 1m47 e calçando 35, no auge da carreira, ele pesava 51 quilos e ganhava o mais baixo salário no time. Ninguém jamais assistiu a uma partida em que tivesse jogado mal. Sempre atuou regular, ou brilhantemente. Nunca medíocre. Verdade! Por isso era chamado de “Xodó da Vovo” e “Alegria do Povo”. Quando o meio-de-campo esticava uma bola para, pela esquerda, o pobre do marcador já sabia: seria desconjuntado. E ouviria a galera gritar: “ Ripa na chulipa!” De frente pro gol, Bimbinha era fatal. Pelo menos, é o que contam os cerca de 250 gols que marcou.
Bimbinha ponta Djalma Campos como o principal responsável pela sua historia. Em 1975, aquele o levou, para o Sampaio, após vê-lo pintar os canecos numa pelada na salina do Tamancão. Em dois anos, passou, dos juvenis, para o time principal, ganhando o titulo de “Pequeno Prodígio”.
Até 1988, quando defendeu os "Bolivianos", Bimbinha conquistou dois títulos estaduais, como juvenil, e mais nove, como profissional. “Eu esperava pendurar as chuteiras no Sampaio. Depois, ser aproveitado, como treinador de escolinhas, coisas assim. Mas saí sem darem baixa na minha carteira de trabalho, sem receber o Fundo de Garantia por Tempo de Trabalho, dinheiro algum. Não tive a coragem de brigar com o clube. Se tivesse de recorrer contra os dirigentes, tudo bem, seria uma forma de protestar contra a decisão absurda, de me jogarem fora. Esqueceram que o Bimbinha deu muitas alegrias aos tricolores e merecia mais respeito. Nunca fiz bons contratos. Não sei se, por coincidência, sempre que deveria renová-los o clube estava em crise. Eu acreditava nos dirigentes, assinava fiado, para receber amanhã, e o tal amanhã nunca chegava”, desabafou ele, pelo jornal O Imparcial, de 22.11.1989.
Bimbinha demorou a se recuperar do trauma da dispensa do Sampaio. “Como podiam esquecer de certas coisas? Por exemplo: em 1983, fui emprestado à Izabelense, do Pará, e o Moto Clube foi o campeão maranhense. Na minha volta, em 84, recuperamos o titulo, com um gol meu, na final contra o Bode”, exemplifica.
VEREANÇA - Filho de uma família de oito irmãos (quatro homens e quatro mulheres), Bimbinha lançou-se candidato a vereador, por São Luis, em 1988, mas teve de retirar a candidatura. “O presidente do Sampaio não poderia ter concorrentes dentro do clube, pois a fase do clube era ruim e ele precisava se reeleger. Terminei concordando e retirando a minha candidatura”, contou, tmbém, ao Imparcial.
A vingança de Bimbinha, contra os cartolas, aconteceu em 1989. Ele foi para o rival Moto Clube, que levou o título de campeão maranhense, que não conquistava desde 84. Pena que não tivesse sido tão bom assim, para ele. Os dirigentes rubro-negros o viam com certa desconfiança, como se ele fosse um olheiro dos rivais tricolores. Além do mais, o trauma da sua saída do Sampaio fizera Lamartine ficar em melhor forma, lhe sentar no banco e lhe tirar o titulo de melhor ponta esquerda do Maranhão. Bimbinha sentiu que não ali não dava para ele, abandono os treinos e encerrou a sua história "motense".
Casado, com Silvana, e pai de Regis e Silvano, Bimbinha teve Zico e Roberto Dinamite por seus ídolos, nos tempos em que entortava os marcadores. Jogou, ainda, pelo Expressinho e o Tupã, ambos maranhenses. A carreira de treinador não foi longe. Hoje, joga peladas, pelo Maranhão, ganhando pequenas cotas, para sobrevier com o nome feito às custas de muitas entortadas nos becões que desempregava

quarta-feira, 7 de abril de 2010

29 DE OUTUBRO: PELÉ MARCO ZERO

O diretor-provedor do Bauru Atlético Clube, João Fernandes, achava que não poderia haver time pior no mundo do que o dele. Até que, um dia, perdeu a paciência. Mandou toda sua rapaziada embora e colocou um anúncio no Diário de Bauru, convocando garotos, de 8 e 16 anos, para formar uma equipe infanto-juvenil. Só para a primeira peneira, pintou uma centena deles, dos quais o treinador Valdemar de Brito – meia–direita da seleção brasileira de 1934 – encontrou 25 com jeito pra a coisa, entre eles um pirralhinho que fez op diabo com a bola. Pronto! Estava nascendo o Baquinho e Pelé.
O time de João Fernandes estreou em 29 de outubro de 1953, empatando, por 3 x 3, com o Gérson Franca Futebol Clube. No segundo jogo, sapecou 21 x 0 no São Paulo – time amador de Bauru –, com sete gols de Pelé. No ano seguinte, o Baquinho conquistou o título da Liga Bauruense de Futebol, com seis rodadas de antecedência, num ano em que jogou 33 vezes, marcando 148 gols, média de 4,5 por jogo. O presente da garotada foi jogar na capital, contra o Flamengo, da Vila Mariana, na preliminar de Araraquarense x América de São José do Rio Preto. Resultado: 12 x 1 para o Baquinho, com seis gol de Pelé.
Em 1955, o Baquinho foi bi bauruense, mas em 56 acabou. De sua parte, Pelé entrou para o futebol de salão. Por pouco tempo, pois Valdemar de Brito o levou para o Santos, das estrelas Pagão, Del Vecchio, Jair Rosa Pinto e Zito. No mesmo ano, o futuro "Rei do Futebol" marcaria aquele que é considerado o seu “gol marco zero”, no dia 7 de setembro, contra o Corinthians, de Santo André-SP, num amistoso em que o Santos goleou, por 7 x 1. Ainda naquele 1965, ele faria outro gol, em 15 de novembro, nos 4 x 2 sobre o Jabaquara.
Viria, então, 1957, e Pelé encantaria o Maracanã, vestindo a camisa do Vasco, que formara um combinado, com o Santos, para disputar um torneio internacional, a aça Morumbi, reunindo, ainda, Flamengo, São Paulo, o  Dínamo, de Moscou, e Os Belenenses, de Portugal. No dia 19 de junho, ele marcaria três gols do combinado – primeiros tentos internacionais –, nos 6 x 1 sobre os portugueses. Depois, mais um, no 1 x 0 sobre os então soviéticos (22.06); outro, no 1 x 1, com o Flamengo (26.06), e ainda mais outro, no 1 x 0, sobre o São Paulo (29.06).
Quando setembro chegou, “outro 7 de setembro” pintou na vida de Pelé. Um ano após marcar o seu primeiro gol santista, ele balançou as redes, pela primeira vez, com a camisa da Seleção Brasileira. Foi durante o primeiro jogo válido pela Copa Roca, no Maracanã, contra a Argentina, diante de 60 mil pagantes. Para formar um time, o treinador Sílvio Pirillo tivera problemas na convocação, pois os clubes faziam seus caixas, na época, excursionando ao exterior, e não queriam ceder as suas estrelas. O Botafogo,m por exemplo, negou Nilton Santos, Garrincha e Didi, enquanto o Flamengo não cedeu Dida e Dequinha. Pirillo, então, resolveu apostar em dois garotos que vinham arrasando, Pelé, no Santos, e Mazzola, no Palmeiras. De quebra, entregou ao vascaíno Bellini a braçadeira de capitão.
A princípio, a Seleção mostrou-se desconjuntada. Sua defesa não atuava compacta, o meio-de-campo tinha Zito sobrecarregado e, na frente, os pontas Maurinho (São Paulo) e Tite (Santos) eram figuras decorativas. Mais organizados, os argentinos ainda tinham o grande Labruna, que abriu o placar, aos 14 minutos, ao receber um passe, de calcanhar, de Herrera, e bater por baixo do goleiro Castilho (Fluminense).
Era preciso mudar. No intervalo, a torcida que se lembrava das atuações de Pelé pelo combinado Vasco-Santos passou a gritar pelo nome do garoto. Pirillo estava nos vestiários e não ouviu. Mas tivera a mesma intuição. Para o segundo tempo, tirou o centroavannte Del Vecchio (Santos) e mandou a campo o “pirralho”,de 17 anos. E não deu outra. Com um minuto, Pelé empatou o jogo. Moacir (Flamengo) lançou, Pelé recebeu o passe e, de pé direito, com uma cama impressionante para um garoto de 17 anos, colocou a bola à esquerda da “lenda argentina” Nestor Carrizo.
Com Pelé, a seleção subiu de produção, mas ele sozinho não foi capaz de impedir que os argentinos vencessem, por 2 x 1, devido a um erro do goleiro Castilho (Fluminense), que errou numa reposição de bola, para o lateral-esquerdo Oreco (Corinthians). Surpreso, Bellini ficou parado. De posse do “presente”, Labruna só fez repassá-lo a Juárez, que desempatou, aos 38 minutos: Argentina 2 x 1, numa tarde em que o maior cronista esportivo brasileiro da época, Nélson Rodrigues, nem citou Pelé em seu artigo sobre o jogo, na Manchete Esportiva
Três dias depois, no Pacaembu, em São Paulo, diante de 70 mil pagantes, Pelé faria a sua segunda partida e marcaria o seu segundo gol pela seleção brasileira, recebendo passe de Mazzola, que marcara o segundo da vitória, por 2 x 0, na segunda partida contra os argentinos, pela Copa Roca. Como o Brasil tivera melhor saldo de gols, Pelé começou a sua vida canarinha logo como campeão – há 50 anos.
FICHA TÉCNICA - - Data 7.09.1957; Brasil 1 x 2 Argentina; Local: Maracanã; Árbitro Erwin Hieger (Áustria); Público: 60 mil pagantes, Gols: Labruna e Juárez (Arg) e Pelé (Bra). Seleção Brasileira: Castilho; Paulinho de Almeida, Bellini e Jadir. Oreco e Zito (Urubatão), Maurinho, Luisinho, Mazzola (Moacir), Del Vecchio (Pelé) e Tite. Técnico: Sívlio Pirillo. Argentina: Carrizo; Pizarro, Vairo e Giansera; Néstor Rossi (Guid) e Urriolabetia; Corbatta, Herrera (Antonio), Juárez (Blanco), Labruna e Moyano. Técnico: Guillermo Satábile

1968: O ANO QUE NÃO DEVERIA TER TERMINADO PARA O BOTAFOGO

Naquele tempo, o Campeonato Carioca era o mais charmoso do futebol brasileiro. O país inteiro o acompanhava, pelo rádio. O Paulista, também, era uma parada, mas perdia, em glamur, para o da Cidade Maravilhosa.
Pois bem! Em 1968, o time da moda era o Botafogo, que já havia conquistado a Taça Guanabara, ainda uma disputa à parte, e o Estadual, um ano antes, com Mário Jorge Lobo Zagallo nos inícios de sua carreira de treinador. A temporada fora demais: Botafogo campeão da Taça Guanabara, do Carioca e da Taça Brasil, o embrião do atual Campeonato Brasileiro.
Gloriosos tempos! O Botafogo jogava com tanto conjunto e juventude empolgantes, que todo garoto que começava a gostar de futebol queria ser botafoguenses. Naquele timaço, armado pelo Lobo, só o maestro Gérson e o zagueiro Sebastião Leônidas eram veteranos. Trabalhar com a juventude era o que o Zagallo mais sabia, afinal conquistara o Campeonato Carioca de Juvenis, em 65, revelando Afonsinho e muitos outros cobrinhas.
O Botafogo até que poderia ter feito a dobradinha dos mesmos títulos em 67 e 68, se não fosse uma incrível decisão no cara-ou-coroa, com o Atlético-MG, o que o tirou da Taça Brasil. Por falar nesta, a final da última disputa daquela competição, a de 68, até que foi mole. Colocar o grande Botafogo, de Rogério Hetmaneck, Jairzinho, Roberto Miranda e Paulo César Lima, diante do Metropol, de Criciúma-SC, foi até uma covardia do destino. Mas o grande lance mesmo daquele supertime de “Seu Zagallo” aconteceu na decisão carioca de 68, mais precisamente no dia 9 de junho: 4 x 0 em cima do Vasco, num domingo em que o Maracanã bateu os recordes nacionais de público – 120 mil e 178 pagantes – e de renda – NCr$ 513 milhões, 379 mil e 25 novos cruzeiros, a moeda da época.
CATIMBA - Guerra-fria foi o que não faltou na semana da decisão carioca de 1968. A torcida alvinegra falou em raptar o goleiro vascaíno Pedro Paulo, o atacante cruzmaltino Bianchini soltou a língua contra seu ex-clube e os cartolas alvinegros falaram em antidoping para os jogadores do Vasco. Fora de campo, a polícia mandava avisar que prenderia quem soltasse foguetes ou bombas no estádio. Além do mais, o árbitro escalado para o clássico, Armando Marques, o então melhor do país, fora pressionado a indicar os auxiliares da arbitragem.
Passada a catimba pré-jogo, ainda teve a de última hora. Por não quererem entrar em campo, antes um do outro, os dois times atrasaram o início da partida em 21 minutos. Foi preciso muita conversa entre a cartolagem para ambos entraram juntos, debaixo de muito foguetório e chuva de papel picado. Quando a bola rolou, só deu Botafogo. O Vasco não o ameaçou em nenhum momento. Com 14 minutos de jogo, Roberto Miranda estufou as redes vascaínas. Aos 33, Rogério fez mais um, para os alvinegros virarem o primeiro tempo com 2 x 0 no placar.
Na etapa final, foi a mesma festa. Jairzinho aumentou, para 3 x 0, aos 17 minutos, e Gérson fechou o placar, aos 20. Por sinal, quando o "Canhota" balançou a rede, os reservas botafoguenses invadiram o gramado, comemorando já o título. Foram todos expulsos de campo, o que impediu Zagallo de fazer as substituições que pretendia no segundo tempo. Pra piorar, na comemoração do gol, Zagallo bateu com o nariz na máquina de um fotógrafo.
CANHOTINHA DE OURO - Gérson, que levantou a taça, no final da partida, foi a maior figura em campo. Naquela tarde, ele interceptou, desarmou, armou, atacou, defendeu e cantou as jogadas alvinegras. Além dele, Sebastião Leônidas mandou na zaga, enquanto Carlos Roberto, no meio-de-campo, e Rogério e Jairzinho, no ataque, foram outros destaques, o que não houve no time vascaíno.
A goleada botafoguense valeu o bicho de NCr$1.500 (novos cruzeiros), enquanto os reservas levaram 500 a menos. Já o prêmio pelo título ficou de ser fixado, depois. Para fechar as comemorações, os campeões foram recebidos, no dia seguinte, no Palácio Guanabara, pelo governador Negrão de Lima.
FICHA TÉCNICA - Data: 09.06.1968; Local: Maracanã. Gols: Roberto, aos 14, e Rogério, aos 33 min do 1º tempo; Jairzinho, aos 17, e Gérson, aos 20 min do 2º tempo. Árbitro: Armando Marques, auxiliado por Antônio Viug e Amílar Ferreira. Público: 120 mil e 178 pagantes e 21.511 menores. Renda: NCr$: 13.379,25 (novos cruzeiros, moeda da época). BOTAFOGO: Cao; Moreira, Zé Carlos, Leônidas e Valtencir: Carlos Roberto e Gérson; Rogério, Roberto, Jairzinho e Paulo César. Técnico: Mário Jorge Lobo Zagallo. VASCO: Pedro Paulo; Jorge Luís Brito, Ananias (Sérgio) e Ferreira; Bougleux e Danilo Menezes; Nado (Alcir), Nei, Valfrido e Silvinho. Técnico: Paulinho de Almeida.

terça-feira, 6 de abril de 2010

6 DE ABRIL: O DIA EM QUE PELÉ RUBRONEGROU

Pelé "flamengou", em 1979, por 45 minutos. Disputou o amistoso em que o Mengão goleou o Atlético-MG, por 5 x 1, no Maracanã, em benefício de vítimas de enchentes em Minas Gerais. Ele já estava “aposentado”, aos 38 anos de idade, e tinha feito alguns treinos, com a rapaziada santista. No Rio de Janeiro, provocou  histeria, na véspera da partida, quando fez seu único coletivo na Gávea. Arquibancadas e até mesas de um bar ao lado do estádio ficaram totalmente lotadas. Sem falar das janelas dos prédios vizinhos. Nem um forte esquema de segurança o livrou da tietagem.
Pelé chegou ao território flamenguista, pouco depois das 15h, junto com o empresário Alfredo Saad e o jornalista Oldemário Toguinhó, encontrando uma multidão o esperando, na porta. Abraçou Adílio, chamando-o de “meu futuro” e, com o meia, entrou abraçado no estádio. Em seguida, foi para o vestiário, vestiu a camisa branca, dos titulares, virando-a para não destacar o nome de uma firma de roupas. Passou 15 minutos concedendo entrevistas e posou para fotos, até o treino começar.
Passado o leve aquecimento, Pelé disputou 30 minutos de coletivo, tempo suficiente para fazer algumas deixadas, tabelas, dribles, uma cabeçada que mandou a bola no travessão e uma enfiada para Júnior (Leovegildo Lins Gama) marcar um dos gols do seu time – 3 x 0, com dois de Zico.
Fim de treino. Pelé previa que daria pra se entender legal com Zico, porque percebera o Fla tocando certinho na bola, facilitando a sua vida. Sobre o “Galinho de Quintino”, declarou: “Jogar ao lado do Zico é fácil, pois o que faz a graça do futebol é a criatividade, coisa que o garoto tem bastante”. Só um iten o decepcionava: o gramado da Gávea, muito irregular, pois ele já estava acostumado com a grama sintética dos seus tempos de Cosmos, nos Estados Unidos, onde encerrara a carreira. Mas se dizia com “fome de bola” e a vontade de jogar até quando suportasse, principalmente, pelo prazer de voltar ao Maracanã, estádio que sempre lhe aplaudira – o treinador do Fla, Cláudio Coutinho, deixara aquilo por conta dele.
O GRANDE DIA - Pela manhã, quase 200 operários limparam o Maracanã, enquanto outros tantos pintaram, de branco, a área em que o presidente João Figueiredo passaria. Banheiros, mal conservados, receberam sabonetes e papel higiênico. Por volta das 17h30, uns 10 mil torcedores já aguardavam pela abertura dos portões do estádio, marcada para as 18h. Como ingressos de arquibancadas esgotaram-se, um dia antes, só se encontrava bilhetes para a geral e os camarotes, o que fazia os cambistas venderem a entrada de arquibancada por Cr$ 200 cruzeiros, quatro vezes mais do que o valor nas agências bancárias.
Perto das 19h, um susto: o centro do Rio de Janeiro ficou às escuras, por cinco minutos, alvejado por relâmpagos e trovões, que chamaram um tremendo temporal, dez minutos depois. Resultado: os oito quilômetros de distância do Maracanã consumiam, em média, em 45 minutos, devido o engarrafamento de veículos. Estações do metrô, especialmente, na Praça da Bandeira, viraram um inferno.
O indesejável, porém, passou e chegou o grande momento. Nas tribunas do Maracanã, estavam o presidente da república, o general João Figueiredo, o ministro da Justiça, Petrônio Portella, os respectivos governadores do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, Chagas Freitas e Francelino Pereira, o deputado Magalhães Pinto, presidente do Congresso Nacional, até 1977, quando era senador, e o presidente da ainda Confederação Brasileira de Desportos – antecessora da Confederação Brasileira de Futebol – o almirante Heleno Nunes. Nas arquibancadas, cadeiras, camarotes e geral, 139 mil pagantes, que proporcionaram a renda de Cr$ 8.781.290,00 (cruzeiros e recorde da época), com cota de Cr$ 300 mil, pra cada clube.
FIGUEIREDO ERRA PLACAR - O presidente brasileiro chegou ao estádio às 20h15, recebido por Chagas Freitas e Heleno Nunes. Na tribuna de honra, sentou-se ao lado do irmão Luis Felipe e do chefe do governo estadual. Portava um rádio à pilha, para escutar a narração da partida. Antes, pela entrada das cadeiras especiais e cativas, demorara-se por cinco minutos. Depois, na sala vip, durante meia-hora, batera papo com autoridades. Sentou-se, para assistir ao amistoso, no instante em que os dois times pisavam no gramado, com os autofalantes anunciando a sua presença. A torcida nem deu bola. Preferiu agitar as bandeiras do Fla e se ligar na imagem de Pelé, projetada pelo placar eletrônico.
Figueiredo, que elogiara a atitude colaboradora do “Rei”, adotara, naquela noite, postura de chefe de estado, de torcedor frio. Mostrou um sorrisinho, quando Zico empatou o jogo – em 1 x 1, aos 36 minutos do primeiro tempo, cobrando um pênalti, à direita do goleiro João Leite (Marcelo Oliveira havia feito 1 x 0, para o Galo, aos 22, penetrando, entre Rondinelli e Manguito, após cruzamento de Serginho) – e fez breves comentários sobre os lances mais importantes. No mais, só um palpite errado: placar de 2 x 2.
O REI FERIDO - Pelé foi para o jogo com um estiramento no músculo adutor da coxa direita, provocado pela repetição de uma cobrança de falta, durante o treino, na Gávea. Só contou aquilo para o técnico rubro-negro, Cláudio Coutinho, o médico Célio Cotecchia e seu secretário particular, José Xisto, quando se reuniu ao time, na concentração, em São Conrado. Havia ficado na dele, para não dar a impressão de que estava “afinando”, no que fora apoiado por Xisto.
Entusiasmado, Pelé avisou ao secretário que jogaria de qualquer maneira, chegando a comparar o sentido daquela programação com uma final de Copa do Mundo. E arrematou: “Coloco um remédio em cima (do local contundido) e tudo está resolvido. Fique descansado” – e vestiu a 10 rubro-negra, com a braçadeira de capitão, numa cortesia do titular do posto, Paulo César Carpegiani.
ROLA A BOLA - Flamengo e Atlético-MG eram os campeões de seus estados, com equilíbrio no confronto, nos últimos 13 anos. Em 21 jogos, Fla 8 x 7, além de seis empates. No jogo anterior, em 06.08.78, os rubro-negros haviam feito 2 x 0, amistosamente, no Mineirão, o que tornava o novo duelo numa revanche, com o time de Zico invicto, há 38 partidas.
Rolava a bola e os atleticanos reduziram seu ritmo, após abrirem o placar. Com Pelé procurando mais o jogo e Andrade marcando Marcelo Oliveira mais de perto, o Fla cresceu, empatou e dominou. Matou o Galo, no segundo tempo, quando Luizinho estava na vaga do “Rei”. Os rubro-negros ganharam mais velocidade nas penetrações. Aos 8 minutos, Zico, trocando passes, com Luisinho, e trombadas, com os zagueiros mineiros, virou o placar, para 2 x 1. Aos 14, Júlio “Uhri Geller” César “entortou” o lateral Alves e cruzou para Zico fazer 3 x 1. Aos 27, da intermediária, Zico lançou Luisinho, que penetrou pelo meio da área, cortou Osmar e, de pé direito, aumentou para 4 x 1. aos 39, com o Flamengo já desinteressado do jogo, fechou o placar. Júnior partiu, da intermediária, com bola dominada, lançou Adão – entrara no lugar de Zico, após o quarto gol – que “liquidou a fatura”, na saída de João Leite: 5 x 1.
FICHA TÉCNICA – Data: 06.04.1979. Estádio: Maracanã, no Rio de Janeiro. Gols: Marcelo Oliveira, aos 22, e Zico, aos 36 min do 1º tempo; Zico, aos 8 e aos 14; Luisinho, aos 27, e Cláudio Adão, aos 39 min do 2º tempo. Árbitro: Valquir Pimental, auxiliado por José Carlos Moura e Roberto Coelho. Público: 139 mil pagantes. Renda: Cr$ 8.781.290,00. Flamengo: Cantarelle; Toninho Baiano, Rondinelli (Nélson), Manguito e Júnior: Andrade, Paulo César Carpegiani (Ramirez) e Zico (Cláudio Adão); Titã, Pelé, Luisinho e Júlio César (Reinaldo Gueldini). Técnico: Cláudio Coutinho. Atléticvo-MG: João Leite; Alves, Osmar, Luizinho e Hilton Brunis; Toninho Cerezzo, Marcelo Oliveira e Paulo Isidoro; Serginho (Pedrinho), Dario “Dada Maravilha” e Ziza (Vilmar).

sexta-feira, 2 de abril de 2010

UM BRASILIENSE INVICTO NA GÁVEA

     É muito difícil um atleta passar invicto durante o tempo em que defende um clube. Um brasiliense, porém,  conseguiu o feito: Márcio Amoroso dos Santos, nascido em 5 de julho de 1974. Com rubro-negro, entre 8 de março a 23 de junho de 1996, ele jamais sofreu um revés, em 22 jogos e 5 gols marcados. Coseguiu o índice de 86,3% de vitórias.
   Os tentos do goleador candango com a camisa rubro-negra começaram na estreia, nos 4 x 1 sobre o Linhares (ES), em 08.03.96. Seis dias depois, ele repetiu o feito, nos 2 x 1 sobre o Volta Redonda. A terceira bola na rede foi em 22 de maio, durante o empate, por 2 x 2, com o Bangu, enquanto as duas últimos, respectivamente, ocorreram em 10 de junho, na goleada, por 5 x 1, sobre o Madureira, e, em 23 do mesmo mês, nos 4 x 1 em cima do América.
  Amoroso surgiu nas peladas da Assinfra. Levado, pelo empresário José Roberto, para o Guarani, de Campinas, “explodiu”, em 1994. Depois do Flamengo, foi para o Parma, da Itália, tendo, na temporada 1997/1998, se tornado o primeiro brasileiro artilheiro de um campeonato italiano, com 22 tentos, já pela Udinese, de Udine em 1994.
    O sucesso na "bota" levou Amoroso para o alemão Borussia Dortmund. Depois, defendeu o espanhol Málaga, voltou ao Brasil, em, 2005, e conquistou, pelo São Paulo, a Taça Libertadores e o Mundial de Clubes da Fifa, no Japão. Os próximos passos foram passar, rapidamente, por Corinthians e Grêmio Porto-Alegrense, voltar à Itália e defender o Milan, sem sucesso.
   Em 2008, Amoroso esteve no Aris Salonica, da Grécia, onde fez três jogos – 3 x 3 Panionios; 0 x 2 Xanthi e 2 x 0 Atromitos. Sem receber salários, voltou a Campinas e tentou reingressar no “Bugre”, pelo qual só conseguiu fazer um jogo, em oito de fevereiro de 2009, nos 2 x 2, com a Ponte Preta, pelo Paulistão da Série A-1. Aos 34 anos, não dava mais. Seu estado físico e contusões do passado lhe barravam.
   Sem marcar gols, pelo Fla, Amoroso jogou em: 10.03.1996 - Fla 2 x 0 Fast Clube (AM); 20.03.96 - Fla 2 x 1 Bangu; 24.03.96 – Fla 3 x 0 Barreira, de Bacaxá-RJ; 28.02.96 – Fla 2 x 1 Coritiba; 31.03.96 – Fla 6 x 2 Olaria; 07.04.96 – Fla 2 x 0 Botafogo; 10.04.96 – Fla 2 x 1 Itaperuna; 14.04.96 – Fla 3 x 0 Madureira; 17.04.96 – Fla 0 x 0 Coritiba; 21.04.96 – Fla 2 x 2 Fluminense; 12.05.96 – 1 x 0 Volta Redonda; 16.05.96 - Fla 3 x 1 Internacional; 19.05.96 – Fla 3 x 0 Itaperuna; 25.05.96 – Fla 4 x 0 Barreira; 05.06.96 – Fla 0 x 0 Cruzeiro-BH; 10.06.96 – Fla 5 x 1 Madureira; 19.06.96 – Fla 1 x 0 Americano e 23.06.96 – Fla 4 x 1 América-RJ.
  Ao contrário de Amoroso e levando-se a relação para os chamados “termos relativos”, o brasiliense que mais perdeu defendendo o Flamengo foi o apoiador Goeber Henrique Maia, nascido em 17 de maio de 1982 e revelado pelo Gama. Flamenguista, entre 23 de abril e 7 de julho de 2006, ele disputou oito jogos, sem marcar gols, vencendo quatro – 23.04.2006 – Fla 3 x 1 Juventude-RS; 07.05.2006 – Fla 1 x 0 Botafogo; 31.05.2006 – Fla 2 x 1 Palmeiras e 25.06..2006 – Fla 3 x 2 Fast Clube-AM – empatando um – 24.05.2006 – Fla 2 x 2 Santos – e perdendo três – 30.04.2006 – Fla 0 x 1 Internacional; 28.05.2006 – Fla 0 x 1 Fluminense e 23.07.2006 – Fla 0 x 3 Santa Cruz-PE. Assim, perdeu 37,5% dos jogos disputados.
    Mas um outro brasiliense andou perto de fazer campanha invicta na Gávea. Foi Carlos Alberto Costa Dias, nascido em 5 de maio de 1967 e revelado pelo então Brasília Esporte Clube (hoje, Futebol Clube). Em 18 jogos, perdeu três (16,6%) – 27.02.1994 – Fla 1 x 3 Vasco; 25.05.1995 – Fla 1 x 2 Desportiva Ferroviária-ES e 05.06.1994 – Fla 2 x 3 Gama. Carlos Alberto Dias, ainda, empatou quatro vezes – 06.02.94 – Fla 1 x 1 Madureira; 20.03.94 – 1 x 1 Botafogo; 06.06.94 – 1 x 1 Nacional-AM e 09.06.94 – 1 x 1 Marcílio Dias-SC.
   As 11 vitórias (61,1%) do meia foram: 09.02.94 – Fla 1 x 0 Volta Redonda; 21.02.94 – Fla 4 x 0 Itaperuna; 02.03.94 – Fla 3 x 1 Americano; 07.03.94 – Fla 4 x 0 Campo Grande; 10.03.94 – Fla 3 x 2 América; 15.04.95 – Fla 3 x 1 Botafogo; 29.05.95 – Fla 1 x 0 Vasco; 31.05.94 – Fla 3 x 0 Fortaleza; 03.06.94 – Fla 2 x 1 Guarani de Campinas; 07.06.94 – 2 x 0 Avaí-SC e 21.06.94 – Fla 2 x 1 Kashima Antlers-JAP. Neste seu período rubro-negro – 06.02 a 21.06.1994 –, Carlos Alberto Dias marcou cinco gols, nos 18 jogos disputados. Foram contra Campo Grande, América, Fortaleza, Guarani e Gama.
Também, com um bom índice de vitórias pelo time rubro-negro – 46,1% –, está mais um brasiliense: o lateral-esquerdo Carlos Augusto José de Lira, revelação do Taguatinga. Nascido em 2 de março de 1966, entre 27 de julho de 1995 e 20 de novembro de 1996, ele fez 26 jogos e dois gols pelo clube da Gávea.
   Das vezes em que defendeu o Flamengo, a metade dos jogos de Lira foram internacionais. Nas suas 11 vitórias, enquanto esteve na Gávea - 01.08.1995 - Fla 3 x 1 Red Diamonds (JAP); 05.08.95 - Fla 5 x 0 Shimuzu Pulse (JAP); 11.08.95 – Fla 2 x 1 South China (CHI); 13.08.95 – Fla 3 x 2 Combinado Hong Kong/Shezen; 14.09.95 – Fla 3 x 2 Velez Sarsfield (ARG); 03.10.95 – Fla 3 x 0 Velez Sarsfield (ARG); 25.10.95 – Fla 1 x 0 Nacio9nal (URU); 01.11.96 – Fla 1 x 0 Nacional (URU); 12.11.95 – Fla 2 x 1 Goiás; 15.11.95 – Fla 1 x 0 Cruzeiro-MG; 23.11.95 – Fla 3 x 1 Cruzeiro-MG e em 06.12.95 – Fla 1 x 0 Independiente (ARG) – ele marcou dois gols, contra o South China e o Atlético-MG.
 O empates rubro-negros de Lira foram: 27.07.1995 - 1 x 1 Guarani, de Campinas-SP; 29.10.95 - 1 x 1 Vasco da Gama; 25.01.1996 - 1 x 1 Palmeiras; 28.01.96 - 0 x 0 Vasco; 03.02. 96 - 1 x 1 Madureira e em 20.11.96 - 1 x 1 Borussia Dortmund (ALE). As derrotas: 03.08.1995 - 2 x 3 Kashiva Reysol (JAP); 08.08.95 - 2 x 3 Guo na (CHI). 03.09.95 - 1 x 2 Palmeiras; 06.09.95 - 0 x 2 Paysandu - PA; 09.09.95 - 1 X 2 Corinthians; 28.09.95 - 0 x 1 Vitória-BA; 19.11.95 - 1 x 2 Atlético-MG e em 29.11.95 - 0 x 2 Independiente (ARG).

A BICHARADA DE MANGABEIRA

  Em 1945, Alvares Maciel, secretário de redação do diário Folha de Minas, jornal do governo estadual de Minas Gerais, insistiu com o desenhistas Fernando Pierucetti, o Mangabeira, para ele criar o zoológico futebolístico. E, do pedido surgiu uma grande família bicharal. De todos os representantes, o mais popular ficou sendo o Galo, do Atlético Mineiro, nascido com as cores do galo carijó, branco e preto. Grande sacada! Maciel, no entanto, queria que Mangabeira seguisse a cartilha do argentino Molas, que dera aos clubes cariocas símbolos tirados de personagens infantis dos quadrinho, como o marinheiro Popeye, do Flamengo, e o Pato Donald, do Botafogo. Mas Mangabeira não topou. Não queria imitações.
 Torcedor do América-MG, para seu time, Mangabeira criou o Coelho, que era dirigido por Gérson Sales Coelho e tinha outros dirigentes e funcionários com o mesmo sobrenome. Os americanos não gostaram, porque o coelho é um animal muito manso. Preferiam uma águia. Já o Cruzeiro foi brindado com a Raposa, por causa do dirigente Mário Grosso, considerado muito astuto, sempre chegando na frente de todos para contratar as melhores revelações.
 Além dos mascotes dos clubes mineiros, Mangabeira criou o Pica-Pau Carijó, para o Botafogo; o Lobo da Gávea, para o Flamengo; o Gato Cartola, para o Fluminense; um Rinocerante, para o Bangu; o Leão Marinho vascaíno; um Carneiro, para o São Cristóvão; o Tubarão santista; a Zebra, para a Portuguesa Carioca e o Falcão, para o Juventus. O Urubu, que Henfil criou, para o Flamengo, em 69, era o símbolo que Mangabeira bolou, para o Renascença, clube do bairro do mesmo nome, em BH, e que já não existe mais. O Democrata, de Governador Valadares, ganhou a Pantera.
 Mangabeira calculava ter feito mais de 90 mascotes de bichos, mas registrou apenas 71, na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, por iniciativa do técnico Carlos Alberto Silva, que foi seu advogado, na década 70.